A China está disposta “a fortalecer a comunicação, expandir a cooperação e superar diferenças com os Estados Unidos, conforme os princípios de respeito mútuo, coexistência pacífica e cooperação com ganhos para ambos os lados”, afirmou He Yongqian, porta-voz do Ministério de Comércio, nesta quinta-feira (7), um dia após a eleição de Donald Trump à presidência dos EUA.
Em entrevista coletiva, o porta-voz disse ainda que Pequim deseja “conduzir conjuntamente o desenvolvimento das relações econômicas e comerciais entre China e EUA em uma direção estável saudável e sustentável, para melhor beneficiar ambos os países e também o mundo”, ao ser perguntado sobre como o ministério pretende a reagir a eventuais tarifas dos EUA a produtos chineses.
Durante a campanha eleitoral, Trump ameaçou impor tarifas de 60% a importações chinesas.
A fala de He Yongqian ocorre logo após o presidente da China, Xi Jinping, ter parabenizado Trump pela vitória, frisando que ambos os países precisam encontrar a “maneira correta” de conviver.
“A história demonstrou que China e EUA se beneficiam com a cooperação e sofrem com a confrontação”, afirmou. Segundo o mandatário, ambos “devem reforçar o diálogo e a comunicação, gerenciar adequadamente as diferenças, expandir a cooperação mutuamente benéfica e encontrar a maneira correta para que China e EUA se deem bem”.
No primeiro governo de Donald Trump, a relação entre os Estados Unidos e a China passou por um período de intensa tensão e disputa em diversas frentes.
A guerra comercial foi o principal ponto de atrito, com ambos os países impondo tarifas bilionárias sobre produtos importados, resultando em prejuízos econômicos para os dois lados e em impactos negativos para o comércio global.
Trump acusava frequentemente a China de práticas desleais, como a manipulação cambial e o roubo de propriedade intelectual, e adotou uma postura mais agressiva em relação ao déficit comercial dos EUA com o país asiático. Esse cenário foi marcado por negociações conturbadas e um clima de incerteza para mercados e empresas.
Huawei
Além das disputas comerciais, questões tecnológicas e de segurança nacional também aumentaram a rivalidade entre as duas potências de 2017 a 2021.
O governo Trump restringiu a atuação de empresas chinesas nos EUA, especialmente de gigantes como a Huawei, que se tornou um símbolo das disputas tecnológicas e geopolíticas entre os EUA e a China.
“A Huawei é uma grande preocupação das nossas forças armadas, das nossas agências de inteligência, e não estamos fazendo negócios com a Huawei”, disse o então presidente, em 2019.
Essa pressão envolvendo a empresa de telecomunicações durante a era Trump se estendeu, inclusive, para a gestão de Joe Biden.
Com base nas alegações de que a Huawei tinha vínculos estreitos com o governo chinês e poderia ser usada para espionagem, os EUA impuseram sanções à companhia chinesa e pressionaram seus aliados a não utilizarem seus equipamentos na implementação de redes 5G.
Com base nessas alegações, os EUA impuseram sanções rigorosas à Huawei, proibindo que empresas americanas fornecessem componentes essenciais, como semicondutores, para a produção de seus dispositivos.
Essa restrição afetou diretamente o acesso da Huawei a tecnologias avançadas, como o sistema Android — o Google cortou parte de suas relações comerciais com a Huawei após um decreto de Trump —, dificultando a competitividade de seus smartphones fora da China.
TikTok
Trump também foi para cima do TikTok, controlado pela empresa chinesa ByteDance. Segundo o republicano, dados de cidadãos americanos poderiam ser facilmente acessados pelo governo chinês, representando um risco à segurança nacional.
Em 2020, ele tentou banir a rede social, exigindo que a ByteDance vendesse suas operações americanas.
Mas foi somente Biden que assinou uma lei que proíbe o funcionamento do TikTok nos Estados Unidos se a operação da rede social não for vendida dentro de nove meses — prazo que acaba em 19 de janeiro de 2025, um dia antes da posse de Trump. Mais de 170 milhões de residentes nos EUA estão cadastrados na rede social.
‘Povo como vítima’
Em entrevista à RECORD NEWS, o professor de economia do Ibmec Mauro Rochlin ressalta que “a guerra comercial com a China terá o mundo e o próprio povo americano como vítima”.
Segundo o especialista, as barreiras alfandegárias defendidas pelo republicano vão “pesar no bolso do importador americano, que, certamente, vai transferir a sobretaxa ao mercado interno”.