Mais do que uma referência à boemia e a vida noturna de Porto Alegre, um dos mais importantes artistas gaúchos, Lupicínio Rodrigues teve sua imagem escolhida para estampar o prédio do Foro Central II, na Capital. A iniciativa é resultado de uma parceria do Judiciário gaúcho, em alusão alusiva aos 150 anos do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS), e da Virada Sustentável (VS), considerado o maior festival de sustentabilidade da América Latina e que visa promover a conscientização ambiental e social.
“Lupi”, o cantor e compositor negro porto-alegrense tinha na boemia e na vida noturna da Capital uma grande presença em suas músicas, assim como os amores “sofridos”, além de ter sido compositor do Hino do Grêmio. Nascido em 1914, faleceu em 1974, mas deixou, através de suas obras, um legado histórico e cultural que atravessa gerações e possui reconhecimento nacional.
Inaugurado nesta segunda-feira, o mural que homenageia “Lupi” foi produzido pelo artista Kelvin Koubik e integra a série Personagens, se juntando aos murais do ambientalista José Lutzenberger (no prédio do IPE), e da ginasta Daiane dos Santos (edifício da Fecomércio).
Conforme o coordenador da Virada Sustentável, Vitor Ortiz, um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS’s) da plataforma 2030 Organização das Nações Unidas (ONU) é a redução das desigualdades. Por isso, assim como já havia sido feito com Lutzenberger e Daiane, Lupicínio foi uma das grandes personalidades negras do RS, escolhido para receber a homenagem. “Homenagear uma figura como Lupicínio, que é um negro nascido na ilhota, que projetou seu talento para o Brasil inteiro e hoje nos representa culturalmente, é uma forma de atuar efetivamente para que a comunidade negra e seu legado sejam mais reconhecidos em Porto Alegre”, afirma.
Para o presidente do TJRS, o desembargador Alberto Delgado Neto, depois de tudo que o Estado viveu, mais do que palavras, são necessárias ações. Por isso, juntamente com a Virada Cultural, o poder Judiciário decidiu contribuir com a parede de seu Foro para homenagear Lupicínio. “É uma homenagem não só a Porto Alegre, mas também é um indicativo desta tradição porto-alegrense da boemia e dos bares, que para o turismo é ótima. Além disso, nos dá a honra de ter um artista deste quilate decorando os nossos prédios”, ressalta.
Entre as mais ilustres presenças na inauguração estava Lupicínio Rodrigues Filho, o “Lupinho”, filho do homenageado da noite. Ele destaca que o pai foi injustiçado em vida e que, mesmo atualmente, continua sendo. Por isso, tratou do reconhecimento como a “universalidade da justiça”. “Nada mais farto e eloquente do que a justiça diante da justiça. Se os momentos que ele passou foram muito injustos, nós estamos resgatando a justiça em nome dele”, disse.
Filho também falou sobre a emoção de ver este reconhecimento ao pai. “Descrever com lágrima, seria pouco. Batimento de coração, seria pouco. Tremer as pernas, seria muito pouco. A sola do pé está saindo de dentro do sapato e os cabelos da alma estão sendo arrepiados”, finalizou.
O mural, exposto no prédio do Foro Central II, pode ser visto por quem passa pela av. Edvaldo Pereira Paiva. O artista Kelvin Koubik retrata Lupicínio mais jovem e de chapéu. A imagem também traz referências à boemia e aos bares da Capital, assim como ao Guaíba, que teve a história cheia de 1941 vivenciada pelo artista.
Koubik um dos principais desafios para realizar a obra foi o prazo, considerado curto. Com a ajuda de artistas porto-alegrenses e com muito trabalho, a homenagem foi concluída em menos apenas seis dias. “Todas as pessoas que a gente retratou na Virada são pessoas que eu admiro, então é um prazer trabalhar assim. A construção da imagem foi uma construção coletiva e correu tudo bem”, afirma.