Protesto pede justiça por Patrícia Rosa dos Santos, enfermeira morta em Canoas

Considerado o principal suspeito do crime, marido da vítima teve prisão preventiva decretada

Manifestantes pediram justiça por Patrícia Rosa dos Santos, morta em Canoas | Foto: Fabiano do Amaral/CP

Familiares, amigos e colegas da enfermeira Patrícia Rosa dos Santos, de 41 anos, protestaram por justiça em Canoas, na região Metropolitana. Na manhã deste sábado, os manifestantes demandavam celeridade no inquérito sobre a morte dela, além da condenação do suspeito, um médico de 48 anos, marido da vítima. Ele está preso preventivamente.

Por volta das 9h30min, o ato reunia centenas de pessoas na esquina da rua Açucena com a avenida Doutor Sezefredo Azambuja Vieira, no bairro Marechal Rondon. Os participantes levavam faixas, cartazes e balões brancos. Eles também vestiam camisetas brancas com uma foto da enfermeira e a frase “justiça por Patrícia” estampadas.

Priscila Rosa dos Santos, de 43 anos, é irmã da vítima. Com a voz trêmula de tristeza e indignação, ela clamou para que o julgamento do suspeito ocorra em um tribunal de júri. Outra exigência é a cassação do registro de médico dele.

“Precisamos que a multidão que ama a Patrícia não desista, porque essa foi apenas a primeira de muitas manifestações que ainda vão ocorrer. Não importe quanto tempo passe, ele [suspeito] precisa ser julgado por um júri popular. Ele merece perder o direito de exercer a profissão e apodrecer na cadeia. Esse homem não pode ser considerado médico porque, ao invés de curar pessoas, ele mata”, pediu a irmã de Patrícia.

De acordo com o pai da enfermeira, João Carlos dos Santos, descreveu que tinha relação próxima com o suspeito. Emocionado, ele disse que ainda busca explicações para a morte da filha.

“Confesso que não tive muitas conversas com ele, mas nunca pensei que um crime aconteceria. Não consigo entender a motivação dele para fazer algo tão horrível. Minha filha era uma pessoa boa e o amava profundamente”, desabafou, com lagrimas nos olhos.

Entenda a investigação

Segundo a Polícia Civil, a morte de Patrícia ocorreu no último dia 22 de outubro. O delegado Arthur Reguse, que conduz as investigações, aponta que o companheiro dela teria administrado quatro comprimidos de Zolpidem – medicamento utilizado para dormir – em um pote de sorvete ingerido pela vítima. Na sequência, o médico teria dado à esposa uma dose de Midazolam – para que ela não sentisse dor – e, por fim, teria aplicado o Succitrat – usado para sedar pacientes – para ocasionar a morte.

Ainda segundo a investigação, o médico também teria tentado criar uma cena que não chamasse a atenção dos socorristas do Samu, acionados por ele, que constataram o óbito por infarto agudo. Para aplicação das substâncias intravenosas, ele teria utilizado um acesso na parte de cima do pé de Patrícia, para que, quando ela tivesse os braços examinados, não houvesse perfuração.

Depois de avisados da morte da enfermeira, que não possuía nenhum tipo de doença ou histórico de problemas cardíacos, familiares procuraram a Polícia Civil. Somente então o caso passou a ser investigado.

“Na situação que ele montou, eles já estavam prestes a recolher o corpo e, inclusive, um veículo da funerária já estava no local. A solicitação de ajuda daquela família chegou em um momento final, para que a situação não se transformasse em um simples óbito”. Relata o delegado Reguse.

Ao procurar a polícia, os familiares teriam dito que o homem era “estranho” e afirmaram que ele havia matado ela. Ao ouvir a situação, o local foi isolado e uma equipe do DHPP enviada para investigar o caso, assim como o Instituto-Geral de Perícias (IGP).

A frieza e ausência de sentimentos do investigado para lidar com a morte da mulher logo levantou suspeitas. Durante os depoimentos iniciais, diversas incongruências na versão do médico chamaram a atenção dos policiais. Câmeras de segurança do prédio flagraram o momento em que ele sai com uma mochila e a leva até o carro. Dentro dela estavam os medicamentos utilizados por ele, além de uma gaze com sangue.

Inicialmente, o médico afirmou que os recipientes haviam sido levados vazios por ele, para treinar outros profissionais iniciantes. Entretanto, ao ser questionado se era responsável por administrar treinamentos, afirmou que não, mas alegou que os médicos se ajudavam. Já sobre a gaze com sangue, disse que poderia ter pego por engano, por ser “desorganizado”.

Entretanto, laudos do IGP comprovaram através do exame de DNA que o sangue era de Patrícia. Além disso, os frascos que estavam na mochila tinham dosagens exatas para uma pessoa. “Ele disse que os frascos sobraram de vários atendimentos realizados na última semana. Imagina, uma ampola usada em um paciente, com um frasco usado em outro e uma gaze com sangue. Isso não é condizente com um profissional do Samu”, ressalta Raguse.

Outro ponto que chamou a atenção foi a confirmação de que ele não teria tentado salvar a esposa, enquanto ela sofria o infarto. “Ele não fez manobras cardiorrespiratórias. Ele é um médico emergencista, a mulher está sentindo uma parada cardíaca o que, em geral, gera dor e sofrimento, a pessoa sangra, e ele não fez nenhuma manobra”, explica o delegado Arthur Reguse.

Como uma das incongruências no depoimento, há também o fato de que o médico informou não saber onde estava o celular da mulher, sendo que, por estar no sofá, era provável que o aparelho estivesse por perto. Porém, através dos familiares, a polícia foi informada que a morte de Patrícia foi comunicada pelo marido, mas pelo próprio telefone dela.

Entre pontos que ainda precisam ser esclarecidos está a motivação do crime, que continua sendo investigado pela Polícia Civil, mesmo após a prisão do médico. Os medicamentos utilizados teriam sido subtraídos por ele do Samu.

O médico que atestou a morte também foi ouvido pela PC, mas inicialmente como testemunha. Conforme a polícia, ele alega que após a confirmação da suposta morte natural, atestou o infarto para agilizar processos como a cremação.