Estudo da Ufrgs mapeia impactos no solo causados pelas chuvas deste ano no RS

Caxias do Sul foi a cidade com maior número de registros de movimentos de massa

Foto: Prefeitura de Veranópolis/Divulgação

Um estudo identificou mais de 16 mil movimentos de massa – em solo – em decorrência das fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul a partir de maio. O trabalho reuniu uma equipe de 50 pessoas, entre professores, técnicos, alunos e colaboradores externos da Ufrgs.

Com base em imagens de satélite de alta resolução e trabalho de campo, o grupo mapeou uma área de cerca de 18 mil km² e identificou 16.862 movimentos de massa, no período entre 4 de maio e 21 de agosto de 2024.

Caxias do Sul é a cidade com a maior quantidade de cicatrizes de movimentos de massa mapeados, totalizando 656, seguida de Veranópolis, com 636 cicatrizes. A ação deve fornecer subsídios para a elaboração de medidas de prevenção e adaptação na Serra Gaúcha, Vale do Taquari, Vale do Rio Pardo e Quarta Colônia.

A área de análise envolveu, predominantemente, as bacias hidrográficas Taquari-Antas, Caí, Sinos, Pardo, Alto e Baixo Jacuí e Vacacaí-Mirim e cobre 150 municípios mais atingidos por movimentos de massa na Região Hidrográfica do Guaíba.

O mapeamento concluído pode ser acessado no mapa digital “Webmapa de movimentos de massa para equipes de apoio na situação de calamidade/2024”, sendo que os dados abertos estão disponíveis para download. O Webmapa faz parte do Repositório de informações geográficas para suporte à decisão – Rio Grande do Sul 2024 da UFRGS.

Os dados do levantamento foram divulgados em Nota Técnica Conjunta, emitida nesta terça-feira, 29 de outubro, pelo Instituto de Geociências (IGeo/Ufrgs), Laboratório de Sensoriamento Remoto Geológico, Geomorfológico e Dinâmicas de Paisagem (Latitude/UFRGS) e pelo Centro Estadual de Pesquisas em Sensoriamento Remoto e Meteorologia (CEPSRM). O mapeamento foi coordenado pelo professor do IGeo Clódis Andrades-Filho e pelo mestrando do Programa de Pós-Graduação em Sensoriamento Remoto (PPGSR/UFRGS) Lorenzo Mexias.

Coordenador do estudo, Andrades-Filho explica que a maior concentração de chuva naquele período ocorreu no nordeste do Estado, região de relevo majoritariamente acidentado.
“Por conta dos efeitos desse evento extremo, a movimentação de massa mais expressiva aconteceu nas encostas dos vales em 30 de abril e 1º e 2 de maio, predominando os movimentos dos tipos: deslizamentos, fluxos de detritos, queda de blocos e rastejo do solo”, afirma.

Maior número de movimentos de massa no Brasil

O mapeamento de deslizamentos começou ainda em maio. Em 21 de junho, a primeira divulgação técnica identificava 5 mil cicatrizes, com a análise de 40% da área.

Agora, com o mapeamento 100% concluído, é possível ter noção do volume real da destruição por deslizamentos. Ao final, foram registradas 15.376 cicatrizes de movimentos de massa e 16.862 pontos de ruptura.

Cicatrizes de movimentos de massa são marcas da movimentação de solo e/ou rochas visíveis no terreno. Já os pontos de ruptura demarcam os pontos iniciais do movimento de massa, que registram o início do rompimento do terreno ao longo de encostas.

“Em número de movimentos de massa, este evento é o maior já registrado no Brasil, uma vez que o último de grandes proporções ocorreu no Rio de Janeiro em 2011 e teve 4.300 cicatrizes de movimentos de massa”, explica Andrades-Filho.

O mapeamento aponta 150 municípios gaúchos atingidos por deslizamentos e mais de 10 mil propriedades atingidas diretamente, além de muitos acessos por estradas comprometidos. De acordo com o professor, os efeitos dos movimentos de massa nas encostas exigem, além da resposta emergencial, medidas de prevenção e adaptação do modo de vida e convivência nessas áreas, que seguirão sendo consideradas de risco.

Estudo aponta medidas de adaptação

O estudo aponta ainda medidas de adaptação que devem ser adotadas nessas regiões. São elas:

  • medidas de contenção e drenagem em lavouras de modo a reduzir a movimentação do solo e o acúmulo de água em áreas frágeis do terreno;
  • zoneamento das áreas de maior risco e estabelecimento de medidas de uso restrito do solo e proteção ambiental;
  • formação dos profissionais locais, gestores, técnicos, agricultores e professores sobre risco geológico e adaptação;
  • aperfeiçoamento de sistemas de alertas, que considerem o risco geológico nas encostas a partir de dados técnico-científicos precisos e adequados à realidade socioambiental local e regional.