Luciana Rocha é moradora da Ilha das Flores, arquipélago de Porto Alegre, há mais de três décadas. Ela já passou por várias enchentes, mas a destruição que as águas de maio provocaram ainda estão sendo reparadas.
Foi de madrugada que água invadiu as casas de forma inesperada e devastadora, forçando famílias a abandonarem seus lares e a buscar abrigo temporário. “Eu não quis acreditar nas coisas que estavam acontecendo. Era madrugada, duas horas da manhã, e a água já estava chegando”, recordou Luciana que saiu de casa de barco.
Após a tragédia, Luciana passou um período em um abrigo, mas, sem se adaptar ao local, decidiu voltar para a beira da BR, onde, junto de vizinhos, montou barracas improvisadas. Ainda hoje, alguns pertences permanecem guardados nessas estruturas provisórias, aguardando o momento de a casa estar totalmente organizada. “Com a calma devagarinho, nós estamos conseguindo se organizar”, disse a dona de casa.
Entre os desafios enfrentados, os moradores da Ilha das Flores ainda lidam com a incerteza do futuro. Com o trauma presente, surgem dúvidas e receios sobre o que está por vir. Luciana conta que muitos, assim como ela, têm interesse em se mudar para outras regiões, mas temem o desconhecido.
“Não dá para colocar 30 anos fora e morar num lugar onde você nem sabe se vai ficar 15 dias”, desabafou Luciana que também mencionou a dificuldade de se adaptar em outro bairro, pois considera a Ilha das Flores um ótimo local para criar os filhos e morar. Ela afirma que não quer deixar suas raízes sem garantias de um futuro seguro.
Entre os locais que Luciana escolheria para morar está o bairro Partenon, local que morou quando criança. “Se eu pudesse escolher, eu voltaria para lá, mas é claro que não está mais do jeito que era”, refletiu. “A enchente antes era na canela, agora chegou no segundo andar”, disse observando que não sabe quando uma próxima enchente histórica pode ocorrer.
De acordo com Luciana, a convivência com o sofrimento e a destruição gerou, inicialmente, revolta entre os moradores, que se viam abandonados em meio ao caos. Entretanto, com o passar dos meses, a dona de casa afirma que a calma foi restaurada, e o vínculo com a ilha, onde viveram tantos momentos, prevaleceu.