“Ela só queria um carrinho com bebê conforto”, diz sogra de grávida assassinada em Porto Alegre

Família de Paula Janaína Ferreira Mello doará enxoval de bebê após crime na zona Norte da Capital

Cátia Lopes separa roupas que seriam do neto para doação | Foto: Camila Cunha

As roupinhas do pequeno Endrick serão doadas a outros bebês. Os cobertores e pacotes de fraldas dele, também. O enxoval seria para o filho de Paula Janaína Ferreira Mello, de 25 anos, não fosse o crime que interrompeu a vida dos dois na zona Norte de Porto Alegre.

A jovem foi morta quando estava prestes a completar nove meses de gestação. O bebê tinha nascimento previsto para novembro, mas foi arrancado do ventre da mãe e também não conseguiu sobreviver. Uma mulher de 42 anos, suspeita de ter cometido o assassinato para roubar a criança, foi presa preventivamente.

Paula morava com o companheiro, um homem de 22 anos, no bairro Rubem Berta. Eles tinham uma casa de madeira, na Estrada Antônio Severino, onde criavam uma sobrinha como se fosse filha.

Um quarto para o recém-nascido chegou a ser montado ali. Ocorre que, após perder mulher e filho, o viúvo prefere doar os itens do bebê para não ter que conviver com lembranças da tragédia.

“A decisão dele foi doar todo o enxoval do filho, porque as memórias são doloridas demais. Ele sempre foi muito fechado, e agora prefere sofrer sozinho. Já oferecemos ajuda e sabemos que apoio médico e emocional é necessário, mas ele não quer mais sair de casa nem falar com ninguém”, desabafa Cátia Lopes, mãe do homem e sogra de Paula.

Cátia mora em frente ao imóvel onde vivia o casal. Falando com voz embargada, ela conta que a nora já havia adquirido um carrinho para passear com o filho, mas ainda queria outro, sendo um em que pudesse instalar um berço do tipo bebê conforto, como é conhecido o item que auxilia no transporte de recém-nascidos.

Com lágrimas nos olhos, a sogra relata que a gestante visitou a suspeita na expectativa de ganhar de presente um carrinho com bebê conforto. A investigada mora em um apartamento na rua Amarim, no bairro vizinho Mario Quintana, a cinco quadras de distância da residência do casal. Foi ali que o corpo de Paula foi encontrado, embaixo de uma cama e enrolado com plástico.

“Ela só queria um carrinho com bebê conforto. Nós ainda tentamos argumentar que não era preciso ter preocupação com isso, porque daríamos um jeito de conseguir o equipamento. Infelizmente, a assassina fez a oferta e, como morava nas proximidades, a Paula aceitou ir na casa dela. Ainda não estamos acreditando no que aconteceu”, lamenta a sogra.

Cátia, que trabalha com serviços de limpeza, já doou agasalhos com o nome do neto em bordado. Também já foram entregues para doação outros itens do recém-nascido, como brinquedos e chupetas. Nesta manhã, após o sepultamento de Paula e Endrick, com as mãos trêmulas ela separava peças de roupa que seriam do pequeno.

“Estamos sem chão. A pessoa que cometeu esse crime não é um ser humano, é um monstro. Além de tirar a vida de uma mulher grávida e de um bebê, a assassina também destruiu uma família inteira. Quero que a Polícia Civil investigue o caso, porque temos certeza que há mais envolvidos nisso”, pede Cátia Lopes.