O pintor Clésio Nei da Trindade escapou por pouco da queda de uma árvore durante o temporal desta quinta-feira sobre o veículo em que estava, um Fiat Palio adquirido por ele há cerca de um mês, na rua Vitória, bairro Santana, em Porto Alegre. O incidente ocorreu por volta das 7h. Morador de Viamão, ele contou que havia deixado dois colegas em outro trabalho e estacionou na via, embora não no mesmo lugar onde costumava deixar o carro, para trabalhar na residência de outra moradora. “Estava fazendo um lanche para, em seguida, iniciar o serviço”, contou ele.
“Veio um estouro, parecia tiros, e a árvore, que estava de pé, desceu estalando. Só deu tempo de sair correndo”. Atordoado, ele pediu ajuda na casa. “Minha primeira reação foi gritar: ‘estou vivo’. Mas eu estava mal, e ela me deu uma água. Era o meu sustento. Estou bem agora, mas só por Deus mesmo”, prosseguiu Trindade. Quase cinco meses depois das enchentes catastróficas de maio, Porto Alegre voltou a apresentar alagamentos, assustando moradores, principalmente na região central e zona Norte, como o 4º Distrito, Cidade Baixa, Centro Histórico e Sarandi.
Segundo a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), a ocorrência do Santana foi a única envolvendo árvores na quinta, porém o balanço do meio-dia contabilizava 30 incidentes, sendo quatro pontos com bloqueios por acúmulo de água, e outros diversos com interrupções parciais. A previsão do tempo dava conta de altos acumulados na cidade, o que pôs as equipes de apoio em alerta. A Defesa Civil Municipal contabilizava 46 ocorrências desde o início do alerta climático.
No bairro Santa Maria Goretti, tanto na avenida Sertório quanto em vias próximas, bueiros transbordaram e o trânsito foi caótico. “Não pode cair um temporal que a gente não consegue vir trabalhar”, contou o técnico de nobreaks Marcos Roberto Rosa da Silva, que atua em uma empresa do ramo na rua General Emílio Lucio Esteves. “Deixamos os carros estacionados na calçada, e estamos pensando em ir embora, porque não tem como as transportadoras chegarem. Se subir um pouco mais a água, vamos perder equipamentos”, acrescentou.
Ao lado, segundo ele, funciona um depósito de cocos, que também poderia perder frutas caso o nível da água elevasse. Marcos estava ao lado do colega, Emanuel da Silva, avaliando se sairiam do local ou permaneceriam nele. Auxiliar de estoque de uma empresa de medicamentos na rua Morretes, ali próxima, Marvel Nascimento de Oliveira disse que a situação é recorrente. “Sempre que chove torrencialmente, alaga a rua e o bairro inteiro. Dependendo da localidade, até acima da cintura. Não têm como sair ou entrar carros, e isso atrapalha muito as empresas daqui”, afirmou ele.
Na Assis Brasil com a Mal. José Inácio da Silva, comércios alagaram. A CEEE Equatorial informou que o temporal desta quinta-feira “agrava os efeitos dos outros dois que já haviam atingido parte do Estado desde o último dia 19”, com 67 mil clientes sem energia elétrica ao meio-dia desta quinta em toda sua área de concessão. A empresa disse que mobilizou dois mil profissionais próprios, mais cem equipes adicionais e reforço de equipamentos e técnicos de unidades do Grupo Equatorial de outros Estados do país e de companhias como RGE, Celesc, Coopernorte e Certel.
De acordo com os dados da estação Belém Novo do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), choveu 42,2 milímetros, entre meia-noite e 11h desta quinta. Desde a última terça-feira, a chuva já havia sido de 83 milímetros, ou 58% da média para o mês de setembro, de 141,5 milímetros. As equipes do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) já haviam efetuado a limpeza de 270 dos 500 quilômetros de redes afetados pela inundação.