Eram por volta das 6h de quarta-feira, quando moradores da cidade de Camaquã, na Região Sul do Estado, foram acordados com uma forte chuva de granizo. Minutos se passaram e, quando parecia que a situação iria se normalizar, o vento chegou e deixou um rastro de destruição por diversos bairros da área urbana.
“Eram 6h12min quando aconteceu. Veio apenas uma rajada de vento, mas com força suficiente para levantar tudo”, relata o morador do bairro Maria da Graça, Diego Pattos Lucena, de 21 anos, que tirou o dia para cobrir com lona o buraco deixado em seu telhado, fazer a limpeza da casa e retirar os materiais que ficaram caídos pela rua.
Conforme o presidente da Associação dos moradores dos bairros Maria Graça, Vila Jardim e Gaúcho – três dos mais afetados da cidade, Mauro César da Silva Alves, a principal necessidade da comunidade são as doações de telhas e lonas para cobrir os estragos. “É uma coisa bem difícil de entender e de tentar explicar, mas foi uma anomalia climática mesmo”, lamenta.
Conforme o prefeito de Camaquã, Ivo Ferreira, a estimativa é de que mais de 500 famílias tenham sofrido algum tipo de dano em suas casas. “Fizemos um apelo ao governo do Estado e ao governo federal, pedindo todo tipo de auxílio. Desde as cestas básicas, água e colchões, até telhas e materiais de construção. Nós precisamos que os governos nos ajudem porque a destruição foi muito grande. É preciso unir forças nesta hora, porque nossa população precisa de nós”, diz.
Segundo ele, a Prefeitura montou um gabinete de crise que é responsável por fazer os direcionamentos das equipes para que sejam realizadas as ações necessárias para atender a comunidade. A maioria dos afetados, que precisou sair de casa, está na casa de amigos e familiares. Um abrigo também deve ser montado em um ginásio municipal, para receber aqueles que necessitarem.
Além das residências, lojas, empresas e diversos outros tipos de estabelecimentos comerciais também foram atingidos, assim como prédios públicos. O levantamento, ainda preliminar, aponta que 12 unidades de saúde foram atingidas, incluindo o hospital municipal que, inclusive, precisou ter a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) realocada devido aos danos causados pelo vento.
Das 27 escolas de Camaquã, ao menos nove foram danificadas, sendo cinco severamente atingidas.
Na Escola de Educação Infantil Ir às Bernardinas, mais de 50% do telhado foi levado pelo vendaval. Com isso, a chuva forte que caiu durante várias horas inundou todas as salas e ambientes de convivência. Em toda a estrutura, somente dois banheiros não foram afetados. Já na Escola João Goulart, o telhado do ginásio caiu sobre a escola e destruiu boa parte do prédio.
As aulas estão suspensas em toda a rede de ensino e, conforme a Secretaria da Educação, é estudada a locação de outros prédios para que os alunos das duas instituições, que precisaram ser reconstruídas, sejam realocadas.
Segundo a Metsul Meteorologia, uma frente semi-estacionária, se convertendo em frente fria com deslocamento pela Metade Sul do Rio Grande do Sul, formou nuvens carregadas durante a madrugada. A imagem de satélite do momento do temporal em Camaquã mostrava nuvens enormes com topos de até -70ºC sobre a cidade.
Estações meteorológicas, tanto do Instituto Nacional de Meteorologia como mantidas por empresas e produtores rurais, não acusaram vento muito intenso em Camaquã. Ou seja, foi um evento localizado na cidade, como são as microexplosões, fenômeno também conhecido como downburst.
Conforme levantamento da Defesa Civil do Estado, Camaquã é a cidade que mais registrou chuvas durante as últimas 72 horas, com mais de 180 milímetros de precipitação. Por isso, diversos pontos apresentam alagamentos nas vias. A Barragem do Arroio Duro opera com toda a sua capacidade.