Analista considera que decisão do Copom já está tomada, faltando conhecer o comunicado

Informações contidas no documento de quarta-feira vai balizar entendimento dos investidores

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O Comitê de Política Monetária (Copom) vai subir na próxima quarta-feira, 18, a taxa básica de juros, a Selic, em 25 pontos-base, segundo as projeções do mercado. A taxa Selic vai subir de 10,5% para 10,75%. Essa é uma informação já “precificada” pelos investidores. Conforme Leandro Manzoni, da plataforma Investing.com, a dúvida é o tom do comunicado, e o mercado vai ler o documento fazendo as seguintes perguntas:

● A decisão será unânime ou dividida?
● Haverá contratação de novas altas ou dirá que o colegiado será “dados dependentes”?
● O balanço de risco vai incorporar que a atividade econômica corrente estão acima do potencial?
● Haverá alguma afirmação que aponte em causa e efeito do hiato do produto positivo está causando pressão inflacionário no setor de serviços?

“As respostas vão direcionar se o tom será considerado duro ou frouxo. E a decisão precisa ser unânime, se vier um Copom dividido as respostas das outras questões se tornarão secundárias, com implicações altistas no dólar e na taxa de juros longo na curva no dia seguinte”, comenta Manzoni

Para ele, com uma decisão sem divisão, um comunicado já contratando a próxima alta será visto como tom duro: se for de outra alta de 25 pontos-base, pode acontecer um desapontamento do mercado que gostaria de uma aceleração do ciclo de alta para as reuniões de novembro e dezembro, especialmente se o comunicado estiver confuso e o colegiado não demonstrar “convicção” da sua decisão. Nesse caso, seria um “tom duro, mas frouxo”.

Se deixar claro que não há automatismo de alta de mesma magnitude no encontro seguinte, colocando no comunicado sinalizações firmes de que haverá uma contratação de alta maior em novembro “para atingir o objetivo da política monetária de levar à inflação e ancorar as expectativas para o centro da meta de 3% ao ano”, é provável que o mercado veja o Copom comprometido com seu objetivo institucional, respondendo com queda do dólar e dos juros futuros longos no dia seguinte.

MOTIVOS DE ALTA

É importante enumerar os motivos de que a Selic vai iniciar um novo ciclo de alta mesmo com a política monetária corrente operando em um patamar restritivo. O mercado iniciou a precificação de alta da Selic a partir de junho, um mês após a decisão polêmica, dividida do Copom que reduziu a taxa Selic de 10,75% para 10,5% sem seguir o guidance de queda da taxa em meio ponto percentual. Os economistas consultados pelo Boletim Focus apenas contrataram as altas da Selic somente na semana passada.

“A necessidade de uma maior restrição da política monetária se deve a deterioração da expectativa de inflação de 2025 e 2026 bem acima do centro da meta de 3% de inflação. O Boletim Focus de hoje retomou o processo de deterioração, que havia cessado nas semanas anteriores. Além disso, inflação corrente acima de 4% com tendência de risco de romper o teto superior de 4,5% da meta de inflação. Apesar da deflação em agosto, o acionamento da bandeira vermelha 1 nas contas de energia elétrica, efeitos negativos da seca na oferta de alimentos e dólar negociado acima de R$ 5,50 devem elevar a inflação acima da média do período para os próximos meses”, diz Manzoni.

Em sua opiniçao, a economia do Brasil operando acima do potencial, com um mercado de
trabalho considerado apertado com ganho salarial transmitido em alta de preço dos produtos também está entre os fatores. “Resta saber a taxa terminal desse ciclo de alta. Um tom “duro, mas frouxo” deve levar o mercado a precificar de 3 a 4 altas de 25 pontos-base, com taxa terminal entre 11,25% e 11,5%. Um tom duro deve levar a uma taxa terminal de 12%, com alta inicial de 25 pontos-base, duas altas de meio ponto percentual e um avanço terminal de 25 pontos-base em janeiro”, sustenta o analista da Investing.com.