A chuva fina que caiu na manhã desta quinta-feira em Porto Alegre reduziu levemente a sensação de desconforto causado pela fumaça das queimadas, presentes há vários dias. Na esteira disto, a qualidade do ar melhorou na área urbana, com o índice 121, mas ainda era considerada “insalubre para grupos sensíveis”, indicou a plataforma de monitoramento IQ Air, baseada na Suíça, e parceira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) a partir de imagens de satélite.
A Capital não tem equipamentos públicos que monitoram estes índices de poluição. O céu acinzentado dos últimos dias também permaneceu na Capital, porém, agora, somaram-se aos poluentes suspensos na atmosfera as nuvens de precipitação. A esperada “chuva preta” não apareceu em grande quantidade. O satélite Copernicus, da União Europeia, mostrou que a fumaça ainda deve estar presente no Rio Grande do Sul, pelo menos, até a noite do próximo sábado, quando os ventos devem empurrá-la na direção norte, fazendo com que a mesma atinja outros estados.
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Porto Alegre afirma que houve 276 internações por questões respiratórias entre o último domingo e a manhã de quinta, liderando o ranking de doenças relacionadas. No entanto, a pasta afirmou que a proporção tem se mantido estável em relação ao ano passado, e não pode precisar se elas têm relação com a fumaça. Enquanto isso, a área queimada no RS apenas em agosto foi de 31.404 hectares, a maior em um mês desde o começo do levantamento, em janeiro de 2019.
O número é mais do que o dobro em relação ao mesmo mês de 2023, quando foram 15.530 hectares. As informações foram divulgadas nesta quinta-feira pelo MapBiomas, por meio da ferramenta Monitor do Fogo. Tradicionalmente, ainda conforme estes dados, agosto é o mês com o maior registro de queimadas no território gaúcho. Com isso, a soma de oito meses de 2024 já superou todo o ano passado no Rio Grande do Sul, quando foram queimados 29.590 hectares, e 2021, com 23.433 hectares.
Até o momento, de janeiro a agosto de 2024, a queima atingiu 37.169 hectares, 40% a mais sobre os 26.379 de 2023, enquanto o recorde de um ano todo foi em 2022, com 58.926. Curiosamente, o bioma Pampa, que somente está presente no RS, registrou 2.701 hectares de área queimada entre janeiro e agosto, 67% a menos do que os mesmos meses de 2023 e o menor valor dos últimos três anos.
Segundo o estudo, o padrão está associado com a maior umidade observada nesta região, com chuvas acima da média para o período. O Pampa foi o único bioma brasileiro sem aumento da área incendiada. A nível nacional, no Cerrado, 2,4 milhões de hectares foram queimados apenas em agosto, ou 43% de toda a queima em biomas no Brasil, liderando o levantamento. Todos os municípios gaúchos que registraram, em agosto, maior índice de incêndios foram da região dos Campos de Cima da Serra.
Lidera o levantamento São Francisco de Paula, com 10.820 hectares, seguido por Bom Jesus, São José dos Ausentes, Jaquirana e Cambará do Sul. Os efeitos da fumaça, diretamente causada pela circulação dos ventos provenientes das queimadas na Amazônia e Cerrado, afetam ações e eventos no Estado. Nesta quinta, a Secretaria Municipal de Educação (Smed) de Porto Alegre expediu recomendação para evitar atividades ao ar livre e prática esportiva até o próximo domingo, a partir de orientação da SMS.
Conforme a Smed, alunos com problemas cardíacos, respiratórios graves e imunológicos terão, se for o caso, suas faltas justificadas. A Secretaria Estadual de Saúde (SES) suspendeu também a caminhada “O Amor Vive”, voltada à conscientização sobre a doação de órgãos, que ocorreria na orla do Guaíba, no sábado, justificando orientações conjuntas com a Secretaria de Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) com a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam).