Nas propostas, nos debates e, agora, no horário eleitoral gratuito: a enchente que assolou Porto Alegre também será o foco dos programas de rádio e TV de três dos candidatos à prefeitura da Capital. A partir desta sexta-feira, os eleitores terão oportunidade de conhecer as propostas de Sebastião Melo (MDB), Maria do Rosário (PT) e Juliana Brizola (PDT) através das tradicionais plataformas de comunicação. Os candidatos foram os únicos, dos oito que disputam o pleito, cujas coligações tiveram direito a tempo de exibição na TV e no rádio.*
Agora, até três dias antes do primeiro turno, os eleitores terão, de segunda a sábado, quatro momentos para acompanhar as propostas e intenções dos candidatos ao Paço. No rádio, os programas acontecem das 7h às 7h10 e das 12h às 12h10; e, na televisão, das 13h às 13h10 e das 20h30 às 20h40.
Melo, que tenta reeleição, articulou uma ampla coligação e saiu na frente, conquistando o dobro do tempo que suas adversárias: 5 minutos e 36 segundos. Conseguindo, também, o maior número de inserções, 1650 no total. Maria do Rosário terá 2 minutos e 19 segundos e 685 inserções. Enquanto Juliana terá 2 minutos e 3 segundos em cada programa e 604 inserções no total. Na sexta-feira, é a pedetista que dá largada no horário eleitoral, mas, ao longo dos dias, a ordem de início alterna.
Durante esse período, os três candidatos vão abordar sua trajetória política, apresentar seus respectivos vices e mostrar que têm propostas que não versem somente para os problemas causados em função das enchentes. Cada um com suas particularidades. A seguir, as estratégias para os primeiros programas eleitorais de cada um dos três postulantes.
*Como os critérios para obtenção de tempo no programa eleitoral dependem do número de parlamentares na Câmara dos Deputados ou do percentual de votos obtidos na última eleição, nem todos os candidatos à prefeitura conseguiram direito, mesmo aqueles com representação, como é o caso do Felipe Camozzato, do Novo. Também ficaram de fora do horário eleitoral Carlos Alan (PRTB), César Pontes (PCO), Fabiana Sanguiné (PSTU) e Luciano Schafer (UP).
Sebastião Melo (MDB), 5min36s
Com a maior fatia do horário eleitoral, Melo focará os dois primeiros programas em um dos três “calcanhares de Aquiles” da sua gestão: as enchentes. O objetivo é ‘enfrentar os problemas de cara’, apresentar a situação como uma crise climática histórica sem precedentes, mas que contou com um gestor ativo e eficaz. Nessa tônica – e com bastante tempo para explorar –, o time do prefeito pretende resgatar as entregas da prefeitura e, assim, “resgatando a memória das pessoas”, afirmou o coordenador de comunicação da campanha, Luiz Otávio Prestes, que fez questão de afirmar que a campanha não será resumida “a maio de 2024”. “Nós fizemos profundas transformações que serão apresentadas”.
Cientes de que o eleitor não quer saber só do passado, propostas e um plano de governo também serão explorados, ainda que não tenham detalhado quais. Junto a isso, a campanha pretende apresentar a figura do prefeito Melo e seu jeito de governar, experiente e, ao mesmo tempo, próximo ao povo. “São elementos irrefutáveis do jeito Melo de governar e da persona Melo”, explicou Luiz Otávio.
A presença da vice, Betina Worm, – que entrou na campanha um pouco mais tarde – também será utilizada, construindo cada vez mais visibilidade e predominância para figura que, até poucos dias atrás, não habitava o ambiente político. As adversárias ou os partidos contrários não deverão ser citados.
Apesar de, em um primeiro momento, o grande volume de tempo ser visto como benéfico, também abre margem para o erro. Por isso, a equipe de Melo vem trabalhando em um “planejamento dinâmico”, entendendo conforme a eleição passa o que funciona ou não com o eleitor, “maximizando acertos e minimizando erros”, afirmou o coordenador de comunicação. Em um ambiente cada vez mais digital e dinâmico, o desafio é prender, por cinco minutos, o telespectador e o ouvinte.
Maria do Rosário (PT), 2min19s
Por parte da campanha petista, o desafio é mostrar, em pouco mais de dois minutos, a experiência da candidata enquanto vereadora, deputada e ministra; a visão de cidade que ela defende e as propostas de gestão. Segundo Halley Arrais, marqueteiro de Rosário, “é isso que o eleitor espera e não tem como sair muito dessa caixinha”.
Nesse rol, as enchentes não podem ficar de fora por dois fatores. O primeiro: o programa deve mostrar, entre outros elementos, um dos novos ‘slogans’ de campanha, que é ‘ação e coração’. Ação no sentido das medidas imediatas de reconstrução que o povo precisa após a tragédia. E coração porque foi uma catástrofe que refletiu diretamente na vida das pessoas.
Em um segundo momento, o tema deverá ser pontuado no diagnóstico da cidade. É aqui que as críticas indiretas à atual e antiga gestões devem aparecer, ainda que nomes – assim como a candidata vem fazendo ao longo dos discursos – não sejam citados. “É o que a Maria diz: e se chove amanhã? Essa é uma pauta pragmática”, afirmou o estrategista.
Mas o ‘dever de casa’, mesmo, é contar a biografia de Rosário, incluindo ainda outros atores importantes para a campanha. Como a vice, Tamyres Filgueira, cuja trajetória é importante e que tem forte atuação, por ter sido cobradora da Carris, em um histórico problema enfrentado por Porto Alegre que é o transporte público. A presença dos ex-prefeitos, Olívio Dutra, Raul Pont, Tarso Genro e José Fortunati também pode ser esperada. Além, claro, do presidente Lula. Não só por pertencerem ao mesmo campo, mas porque medidas do governo federal, como o auxílio reconstrução de R$ 5 mil, também serão associados à candidata.
Felizmente, para os organizadores, fazer tudo isso em dois minutos e trinta e nove segundos não é impossível. Tampouco prejudicial. A prática com as redes sociais aprimorou a experiência em passar mensagem de forma reduzida, aprimorando o poder de síntese e utilizando das frases de impacto.
Juliana Brizola, 2min09s
Com pouco mais de dois minutos, o principal objetivo do programa de Juliana Brizola será mostrar a candidata enquanto uma opção que foge dos dois polos políticos, com Melo na direita e Rosário na esquerda.
A estratégia para isso é apresentar a trajetória política da candidata, reforçando a associação com o ex-governador Leonel Brizola. “Isso vem forte porque ele é um ícone da política e a gente tem que respeitar isso, mas a Juliana tem uma personalidade própria”, afirmou Tiago Brum, que integra a comunicação da candidata e é responsável pela equipe que coordena os programas.
Também nessa linha, a figura do vice, Dr. Thiago (União Brasil), deve ser explorada. Com histórico de vereador e deputado estadual, além de médico ainda atuante na cidade e integrante de um partido de direita, ele é outro elemento que reforça a coligação de Juliana e o “posicionamento político que ela representa”.
Para integrantes da equipe, as enchentes “certamente” não podem ficar de fora dos programas porque são a principal questão que Porto Alegre enfrenta hoje. Mas esse não é o foco, mas, sim, apresentar a candidata e quem a rodeia. Apostando também no seu baixo índice de rejeição.
Tiago reconhece que dois minutos e nove segundos é pouco tempo, por isso, a estratégia é conseguir atrair, com os programas no rádio e TV, os eleitores para outros canais da campanha, onde mais temas podem ser explorados. Entre eles, as propostas para zerar as filas na saúde e aumentar as especialidades nas Unidades Básicas de Saúde (UBS); ampliar as escolas de ensino integral e aumentar a grade horária dos ônibus.