Indicação de Galípolo para o BC acelera alta juros futuros e do dólar

Sabatina dos senadores deve acontecer até 9 de setembro,

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O Governo Federal anunciou a indicação do diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, para a para a sucessão de Roberto Campos Neto na presidência da instituição.  A indicação foi enviada ao presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco e ao senador Vanderlan Cardoso, presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) que realizará uma sabatina com o indicado, o que deve acontecer até 9 de setembro, para um mandato de quatro anos à frente do BC. Se aprovado, ele substituirá Roberto Campos Neto, cujo mandato se encerra no dia 31 de dezembro.

Para o analista da plataforma Investing.com, Leandro Manzoni, não houve surpresa, mas embora fosse esperado, o anúncio intensificou o sentimento de aversão ao risco no mercado no fim das negociações no mercado financeiro, acelerando as altas das taxas futuras de juros e do dólar. Galípolo chega sob a desconfiança do mercado.

“Isso porque foi indicado por um governo de esquerda cuja presidência atual fez ataques ao presidente da autoridade monetária por manter a taxa básica de juros em um patamar elevado. A percepção do mercado é de que o próximo presidente do BC conduziria a política monetária benevolente às vontades do atual governo, ou seja, manteria a taxa de juros artificialmente mais baixas e leniente com uma inflação mais elevada. É uma lembrança dos tempos de Dilma Rousseff na presidência com a liderança de Alexandre Tombini no Banco Central”, comenta o analista.

ALTA DOS JUROS

Mas, a intensificação da alta da taxa futura de juros após o anúncio não está relacionada à perspectiva de dependência do Palácio do Planalto. Pelo contrário, Galípolo defende, como diretor de Política Monetária, a alta da Selic, caso necessário, para que a expectativa de inflação para 2026 chegue ao centro da meta de 3% (atualmente em quase 4%). “Essa argumentação se intensificou nessas últimas semanas após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmar que o presidente do Banco Central tem que arcar com as consequências de suas decisões, mesmo que isso signifique uma elevação nos juros. “É uma estratégia de passar a credibilidade necessária de independência e autonomia em relação ao governo”, diz.

Para ele, as últimas declarações de Galípolo são mais duras do que do atual ocupante do cargo, Roberto Campos Neto, em prol de uma política monetária mais forte de combate à inflação. Com a indicação de Galípolo à presidência do Banco Central, ele se torna a voz a ser escutada nesse fim de 2024, mesmo com Campos Neto na presidência, que já sinalizou a transmissão do cargo de maneira tranquila.

O economista da Escola de Negócios da PUC-RS, Gustavo Moraes, também não ficou surpreso com a indicação de Galípolo a quem considera experiente no sistema bancário brasileiro atuando como diretor do Banco Fator e possui estreita ligação com o ministro da Economia, Fernando Haddad. “A nomeação representa que haverá contínua aposta no orçamento do governo como instrumento de promoção do crescimento econômico, cabendo ao Banco Central se adaptar a essas condições”, diz.

Desta forma, crescem as expectativas de alta de 25 pontos-base na taxa Selic na reunião de 18 de setembro. A curva de juros já precifica essa alta e cresce a possibilidade de uma elevação de meio ponto percentual. Os economistas ainda estavam firmes na manutenção da Selic até o fim do ano, de acordo com o último Relatório Focus, divulgado na última segunda-feira pelo Banco Central, mas deve apresentar a possibilidade de alta na próxima divulgação no Boletim.