O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central inicia nesta terça-feira, 30, a reunião de dois dias para definir o patamar da taxa de juros básica da economia brasileira (Selic) com decisão marcada para quarta pela noite. Com expectativa de juros no mesmo patamar até o final do ano, as atenções dos investidores estarão nos indicativos de que há compromisso com a ancoragem das expectativas e ao cumprimento das metas inflacionárias. Os economistas consultados pelo Investing.com Brasil avaliam que, com dólar pressionando, mas expectativa para possíveis cortes nos juros americanos, os integrantes do Copom do Banco Central não deve dar nenhuma sinalização, mas deixar a porta aberta e ganhar mais tempo para avaliar a conjuntura econômica por vir.
“O mercado precifica ou manutenção ou uma possível alta, mas ainda com mais tendência pela manutenção”, destaca Felipe Uchida, head do departamento de análises quantitativas e sócio da Equus Capital. A Equus Capital elabora semanalmente o Índice Equus de Precificação da Selic (IEPS), utilizando Inteligência Artificial para coletar e analisar dados, indicando uma probabilidade de manutenção de 92,1%.
O fator de maior preocupação dos participantes do colegiado é a desancoragem das expectativas inflacionárias, segundo Jose Francisco Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator. “O que eles têm feito é tentar passar a convicção de que eles vão fazer o necessário para levar a inflação à meta. Acho que isso não implica em um sinal agora de que existe viés para cima na taxa de juros”, considera Gonçalves, que espera que a comunicação deixe em aberto possíveis mudanças no entendimento do colegiado. Eventuais alterações no balanço de riscos tendem a vir somente na ata, se for o caso, e a retomada do ciclo de cortes só deve ser retomada pela autoridade monetária no segundo semestre do ano que vem, em sua opinião.
AMBIENTE ADVERSO
Um ambiente global mais adverso e deterioração do cenário para a inflação devem influenciar a decisão do colegiado, avalia Marcela Rocha, economista-chefe da Principal Claritas, que enxerga manutenção na Selic, diante de dados de atividade fortes, especialmente no mercado de trabalho. A economista concorda que a deterioração das expectativas inflacionárias preocupa, principalmente num contexto de depreciação da taxa de câmbio.
“Mesmo com esse cenário mais negativo em relação à última decisão, nós entendemos que o BC optará por ter mais tempo e avaliar se essas condicionantes continuarão negativas para inflação. Assim, nós esperamos que o BC não faça nenhuma sinalização a respeito dos seus próximos passos”, detalha Rocha. A economista espera que o comunicado ressalte que a Selic segue em patamar restritivo, mas sem qualquer compromisso do colegiado, e reforça que não é possível descartar uma alta da Selic nas próximas reuniões.
O patamar do câmbio é um dos principais motivos de pressão nas estimativas inflacionárias do Banco Central e faz com que a discussão sobre eventual reversão do ciclo, com alta na Selic, não seja descartada, acredita a economista-chefe da Principal Claritas. “É importante ressaltar que, mesmo que o Copom não dê sinais sobre subir os juros ou estar propício a fazer isso, se o câmbio permanecer nesse patamar e não tiver um alívio, naturalmente essa discussão continuará ganhando força”.
Como na última reunião o dólar estava mais baixo, mas agora acima de R$5,60, Alex Martins, analista do TC, entende que o Copom pode revisar a projeção da moeda americana em seu cenário-base, impactando as estimativas de inflação deste e do próximo ano. “Quanto ao câmbio, o modelo do Banco Central está em R$5,30, ele vai ter que ajustar, não vai ter jeito. Se trabalhar com um modelo talvez subestimado, o mercado vai cobrar isso lá na frente na curva de juros”, alerta Martins.
O analista entende que já existem componentes para precificar uma alta da Selic, considerando modelos que estimam um dólar mais alto, e que o BC deveria sinalizar na próxima reunião a respeito sobre o assunto. No entanto, diz ser pouco provável que o BC suba os juros nesse ano, diante de um possível corte nas fed funds americanas. “Se os EUA cortarem, o BC vai ganhar uma gordurinha para não precisar subir”.