A ex-deputada estadual e vereadora da Capital, Dercy Furtado morreu de causas naturais na madrugada deste domingo em sua casa, na capital gaúcha, aos 96 anos de idade. Dercy deixou seis filhos, entre os quais o cineasta Jorge Furtado, a jornalista e professora da PUCRS, Thais Furtado, e a psiquiatra Nina Furtado, além de 14 netos, 11 bisnetos e centenas de amigos. O velório está sendo realizado desde as 12h30min na Capela K do Cemitério Jardim da Paz e o sepultamento será às 17h30min deste domingo.
A notícia foi dada pelo cineasta Jorge Furtado, que receberá o troféu Eduardo Abelin, no 52º Festival de Cinema de Gramado, em suas redes sociais. “Teve uma vida longa e extraordinária. Nascida numa família pobre em Morungava, município de Gravataí, imigraram para Porto Alegre em 1934. Meu avô, Melíbio, conseguiu um emprego de cozinheiro num hotel. Minha avó, Etelvina, deixou a carreira de professora municipal para cuidar dos 5 filhos”, destacou.
“Dercy só pode estudar até os 14 anos, largou a escola para trabalhar numa fábrica de ampolas de vidro, um trabalho duríssimo. Aos 17 anos voltou a estudar, no Senai, onde conheceu meu pai, Jorge, seu professor de português. Em três anos, estavam casados. Vieram os filhos e o trabalho social na igreja, no MFC (Movimento Familiar Cristão), onde se deparou com a exploração às empregadas domésticas e com o papel subalterno das mulheres, que tinham as vidas determinadas ao nascer: casar, ter filhos, cuidar da casa. Dona Dercy não gostou do que viu e resolveu lutar para mudar as coisas”, acrescentou Jorge em uma das passagens do texto afetivo sobre a grande mulher e ativista que foi a sua mãe.
No texto, Jorge destaca a luta social de Dercy, que foi a primeira a propor carteira assinada e aposentadoria para as empregadas domésticas, a primeira a falar em “planejamento familiar” com educação sexual nas escolas, ativismos que a levaram à política. “Fez suas campanhas sempre ‘Em defesa da mulher’, foi a primeira vereadora eleita de Porto Alegre, em 1972. Se elegeu e reelegeu deputada estadual, lutou pelas mulheres até se aposentar. Aos 70 anos, ingressou e cursou a faculdade de História, formou-se com 74 anos. Durante sua carreira política, ela promoveu muitos congressos, escreveu livros, fez muito sucesso na rádio, e apresentou dezenas de projetos de lei, cito dois que me parecem bons exemplos do seu pioneirismo e do atraso do país”, apontou.
Ela fez um projeto, na década de 1970, que retirava do Estatuto do Funcionalismo Público a obrigatoriedade das mulheres trabalharem de saia. Sim, as funcionárias públicas gaúchas não podiam usar calças compridas no trabalho até a década de 1980. Dercy também fez um projeto para retirar do Código Civil o “erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge”, artigo que permitia ao marido, ao descobrir que a noiva não era virgem, anular o casamento. Este absurdo perdurou, acreditem, até 2001”, afirmou Jorge, que conclui amorosamente: “Dercy viveu 96 anos, e não veio ao mundo a passeio. Deixa uma história de vida muito bonita e muita saudade”.