Cenários dos mercados para o 2º semestre de 2024

Analista avalia tendências macroeconômicas para o segundo semestre

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Volatilidade e incertezas vão ser preponderantes nos mercados financeiros nacional e internacional no segundo semestre de 2024, impulsionadas pelas eleições nos EUA. E isso pode permitir, no cenário externo, uma correção saudável dos índices de Wall Street, que apresentam sucessivos recordes de pontuação desde maio. A avaliação é do analista de economia do Investing.com. Leandro Manzoni, ao avaliar as expectativas para os próximos seis meses do ano.

Também vão pesar no balanço dos investidores, segundo ele, o enfraquecimento da economia chinesa e preocupações com a desvalorização do iene japonês. Além disso, estarão no radar eventuais recrudescimentos de riscos geopolíticos já precificados ou novos que possam emergir.

“Há, no entanto, elementos de definição neste período que vai guiar o cenário econômico para 2025 e os anos seguintes. O Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), pode iniciar o tão esperado corte na taxa de juros, o primeiro desde o início da pandemia em 2020”, comenta.

Para Manzoni, o atentado contra o ex-presidente Donald Trump elevou o seu favoritismo na corrida eleitoral contra o atual presidente Joe Biden, mas sem sacramentar o resultado como alguns analistas se apressaram a apontar. Apesar de perder um discurso forte na campanha, os democratas ganham tempo para recalibrar a estratégia, decidindo se mantêm a candidatura à reeleição de Biden ou colocam na disputa outro nome – provavelmente da vice-presidente Kamala Haris.

REFLEXOS

Mas, os mercados passaram a precificar uma vitória de Trump no cenário-base e os investidores vão se posicionar em ativos que podem ser favorecidos em um eventual novo mandato do ex-presidente. A tendência é, neste caso, o favorecimento de ações de empresas petrolíferas, big techs, farmacêuticas e de defesa, mas com aumento do rendimento em aplicações de renda fixa no Tesouro americano com o avanço do risco fiscal.

Um segundo mandato de Trump, na opinião do analista de economia do Investing.com,  deve favorecer o corte de impostos às grandes empresas, o que deve elevar o déficit público, atualmente em torno de 7% do PIB.  Além disso, eventual adoção de tarifas contra importações de produtos chineses e de outros mercados que ameacem a competitividade das mercadorias americanas tende a ser inflacionárias.

No caso de permanência dos democratas na Casa Branca, Manzoni aposta na tendência de continuação do crescimento da performance de ações em energia verde e big techs. Mas, com preocupação no risco fiscal, já que os democratas têm a predisposição em aumentar os gastos, o que pode ser limitado caso uma das Casas do Congresso tenha maioria republicana.

JUROS NOS EUA

Se os dados de inflação ao consumidor continuarem a vir abaixo das projeções do mercado como ocorreram em abril, maio e junho, aumentam as chances do primeiro corte da taxa de juros pelo Fed em 4 anos acontecer em setembro. As projeções do Fed apontam apenas um corte de juros este ano, mas se a autoridade monetária seguir os seus comunicados de ser “dependente de dados”, é possível que haja dois cortes de juros no ano.

Para que este cenário de dois cortes ocorra, segundo Leandro Manzoni, o mercado de trabalho precisa apresentar uma desaceleração maior que vem apresentando nos últimos dois meses, combinado com um encaminhamento da inflação acumulada em 12 meses ao centro da meta de 2% ao ano. O presidente do Fed, Jerome Powell, já deu indicativos em seus últimos discursos que está prestes a mudar a sinalização para um corte de juros, sem a necessidade de a inflação estar a 2% ao ano.

EFEITOS NO BRASIL

Se os dirigentes do Fed começarem a sinalizar, a partir próxima reunião em 31 de julho, mesma data em que o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne no Brasil, o início de corte de juros para setembro, a tendência é da continuação do retorno dos estrangeiros às compras na bolsa brasileira, em um nível mais intenso ao verificado na primeira quinzena de julho. Com isso, o dólar tende a cair em relação ao real.

Para que o Brasil aproveite essa oportunidade, Brasília precisa fazer a lição de casa. O governo federal precisa anunciar um contingenciamento de ao menos R$ 15 bilhões nos gastos previstos no Orçamento deste ano, com o objetivo de cumprir as metas fiscais em 2024. Além disso, o Orçamento de 2025 estará em tramitação ao longo do semestre no Congresso e precisa ter o corte de R$ 26 bilhões, baseado em revisões de benefícios sociais e previdenciários, já anunciados pelo Ministério da Fazenda.

Além disso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa continuar o seu recuo estratégico em não atacar mais a independência do Banco Central em discursos e em entrevistas à imprensa. Além disso, o anúncio do novo presidente da autoridade monetária no lugar de Roberto Campos Neto deve ser alinhado com o compromisso do governo federal com as atuais regras de funcionamento da autoridade, ou seja, sem esboçar que o novo dirigente do Banco Central estará alinhado com os interesses do Palácio do Planalto.

Em relação à atual gestão da política monetária, a taxa Selic deve se manter em 10,5% até o fim do ano, mesmo com o Fed iniciando o corte de juros. Pesa contra a retomada da queda da Selic a deterioração da expectativa de inflação para 2025 e uma atividade econômica e um mercado de trabalho aquecido, acima das projeções do mercado.