Uma estimativa inédita divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que, nos municípios do Rio Grande do Sul mais prejudicados pelas inundações do final de abril e maio, a proporção de postos de trabalho formais afetados ficou entre 84% e 92%. O percentual de estabelecimentos privados atingidos nesses mesmos municípios – Eldorado do Sul, Roca Sales e Muçum – situa-se entre 74% e 82%.
As estimativas dão uma ideia da dimensão da tragédia que devastou o estado. Pelo menos 27% dos estabelecimentos e 38% dos postos de trabalho de Porto Alegre foram diretamente atingidos. O estudo publicado pelo Ipea analisou de que forma as enchentes afetaram os estabelecimentos (não incluídas residências, empresas públicas ou da administração pública) e postos de trabalho (formais, com carteira assinada) nos 418 municípios gaúchos onde foi decretado estado de calamidade ou de emergências.
Em todas essas cidades, ao menos 23,3 mil estabelecimentos privados (9,5% do total nesses municípios) teriam sido diretamente atingidos, assim como 334,6 mil postos de trabalho (o equivalente a 13,7% do total). Segundo dados do Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial) utilizados na pesquisa, os 418 municípios apresentavam, em abril de 2024, 243,7 mil estabelecimentos privados e 2,45 milhões de empregos formais.
O georreferenciamento dos endereços realizado pelos autores do estudo permitiu identificar, com boa precisão espacial, a localização de mais de 215,0 mil desses 243,7 mil estabelecimentos (88,2% do total). Se a proporção de estabelecimentos e empregos atingidos entre os endereços não geolocalizados for a mesma encontrada entre os endereços encontrados com precisão espacial aceitável, o número total de estabelecimentos atingidos poderia subir de 23,3 mil para quase 26,3 mil, e o número de empregos subiria de 334,6 mil para 378,5 mil.
DADOS DA MANCHA
Para a elaboração da Nota Técnica do Ipea, foram utilizados dados da mancha de impacto oficial das enchentes publicada em 27 de junho, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e dados do eSocial de abril e junho de 2024, compartilhados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). A mancha de impacto das inundações e dos deslizamentos de terra e lama atingiu uma área de aproximadamente 16.126 km².
“O Ministério do Trabalho criou um programa emergencial de transferência de renda para os trabalhadores com carteira assinada que foram atingidos pelas enchentes no estado. O critério de elegibilidade para determinar se um trabalhador tem ou não o direito de receber essas transferências de recursos do Ministério é se essa pessoa trabalha com carteira assinada em um estabelecimento que foi atingido pelas enchentes. Para isso, precisamos saber a localização de cada estabelecimento. A metodologia que foi utilizada pelo Ministério para georreferenciar os endereços dos locais é a metodologia que o Ipea desenvolveu para este estudo, respondendo inclusive a uma demanda exclusiva da Casa Civil e do Ministério”, explicou Rafael Pereira, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea e um dos autores da nota.
“É importante destacar como a expertise em ciência de dados que o Ipea vem desenvolvendo nos últimos anos, particularmente em ciência de dados espaciais, tem tido um papel relevante dentro do Governo Federal para ajudar a guiar a tomada de decisões de políticas públicas.”
Os autores ressaltaram que o impacto de eventos climáticos extremos como o ocorrido no RS é mais amplo que o reportado nesse estudo. Isso porque mesmo estabelecimentos indiretamente atingidos também devem ter sofrido consequências – já que seus fornecedores, consumidores, ou infraestrutura de escoamento podem ter sido afetados.