Famílias completam dois meses vivendo as margens da BR-290

Em barracas improvisadas, vítimas da enchente de maio sofrem com o frio, chuvas e reclamam da falta de assistência

Barracas são improvisadas com lonas e cobertores Foto: Jeandro Michael / Rádio Guaíba

Após as fortes chuvas de maio que atingiram o Rio Grande do Sul e deixaram alagamentos históricos, centenas de famílias ainda não conseguiram retornar para suas casas. Em Porto Alegre, essa situação não é diferente. Na região das ilhas, às margens da BR-290, dezenas de famílias tentam sobreviver, fugindo da chuva e do frio. Para alguns, o que era para ser provisório, já se tornou um período de dois meses.

Eronice Pereira é uma das que precisou sair. No dia 1° de maio, em pleno feriado dos trabalhadores, a dona de casa relutou, mas abandonou a residência na Ilha Grande dos Marinheiros, junto com o marido, o filho de 10 anos e cinco cachorros. A casa está localizada abaixo da BR-290, após a separação da Ponte Nova e Vão Móvel no sentido Eldorado-Porto Alegre. Segundo ela, a família está sobrevivendo graças a doações de voluntários. 

“Perdemos tudo e esse foi o único lugar que encontramos para escapar da enchente. Depois desse tempo todo não conseguimos retornar ainda porque a região segue alagada. Estamos vivendo assim e agora neste período de frio acendemos uma fogueira de noite para amenizar. Ainda estamos precisando de cobertores, roupas quentes e principalmente de compensados para nos protegermos do vento gelado”, comenta Pereira.

A necessidade de Eronice também se espalha pela a maioria dos locais à beira da rodovia. Por ali as pessoas vivem em barracas improvisadas com lonas, plásticos e cobertores.

Valmir Veríssimo, de 63 anos, é morador da Ilha da Pintada e montou uma barraca a menos de 100 metros de sua casa. Apesar de estar perto, ele, sua família e vizinhos também não conseguiram retornar para a antiga residência porque rua continua alagada. A casa da família está devastada devido a força das águas de maio.

“Minha casa está toda destruída. Eu não sou aposentado e estou esperando uma ajuda da prefeitura, que nunca mais apareceu aqui. Estamos vivos graças aos voluntários e ao exército que trazem doações para nós. Em meio ao frio e chuva a situação está mais difícil, ainda mais que temos mais de 20 crianças por aqui. Quando chove, a gente está sempre molhado, não morremos ainda só por causa de Deus”, diz Veríssimo.

O que disse a Prefeitura através de nota oficial:

As ações da prefeitura com as famílias acampadas próximo da BR-290, nas Ilhas, são rotineiras. Na sexta-feira, 26, por exemplo, as equipes distribuíram 700 cestas básicas e 1,5 mil cobertores no local e também para quem está em casas nas ilhas. Os colegas do Gabinete da Causa Animal também estiveram na BR, colocando coleiras anti pulgas nos cachorros, vacinando e levando ração. Também foram colocados banheiros químicos e distribuídas lonas. Equipes da Defesa Civil Municipal rotineiramente conversam com as famílias, mas a maior parte não quer ir para abrigo público, diz que prefere ficar perto da sua casa, esperando a água baixar.