Previsão de frio intenso impacta novas pessoas em situação de rua em Porto Alegre

De acordo com a Fasc, Porto Alegre tem cerca de 4 mil pessoas autodeclaradas em situação de rua

O casal de moradores de rua encontra apoio mútuo para reconstruir suas vidas, após a enchente | Foto: Pedro Piegas/CP

A população em situação de rua vai enfrentar madrugadas gélidas nos próximos dias. Segundo a Metsul Meteorologia, o Sul do Brasil vai ter uma queda brusca nas temperaturas devido a uma forte massa de ar frio de origem polar. As mínimas devem ficar 10ºC ou mais abaixo das médias mínimas históricas de junho e julho. Já a Defesa Civil de Porto Alegre estima que as temperaturas marquem 3ºC neste final de semana, na Capital.

A enchente que atingiu o Estado em maio colocou muitas pessoas em situação de rua. Esse é o caso de Lisandra Bastos da Silva, de Eldorado do Sul – cidade 80% atingida. Agora, ela vive nas ruas da Capital, dividindo um colchão com Anderson da Silva, no Centro Histórico. Apesar das dificuldades, o casal encontra apoio mútuo para reconstruir suas vidas, após a enchente. Anderson mora nas ruas há quatro anos, mas agora pretende alugar uma peça e recomeçar com Lisandra.

Nem mesmo a previsão do frio para o final de semana vai fazer com que o casal procure um dos abrigos disponibilizado pela prefeitura. O motivo, de acordo com Anderson, é devido a rixas de facções. Ele afirma que não se sente seguro nos locais oferecidos. Por essa razão ele escolheu um “local estratégico com câmeras” para dormir. “Além das câmeras tem as luzes que ficam acesas”, explicou.

Lisandra contou que foi resgatada pela Defesa Civil e encaminhada para um abrigo na cidade de Guaíba, depois foi para outro e recebeu itens de doação para voltar para casa.

“Só que no momento que eles começaram a distribuir todas as doações de higiene, colchão, toalha, remédio, cobertor, roupa, fralda, tudo, eles começaram a desligar todos os lugares. Todo mundo levou o que recebeu e eu não tinha para onde levar”, lamentou a mãe de um casal de adolescentes.

Lisandra contou que nove pessoas de sua família, incluindo seus filhos, estão abrigados na casa da sua irmã, em Viamão. Ela não foi para o local por considerar que são muitas pessoas, e “os mais jovens e mais velhos precisam seguir uma rotina”. “Meu pai tem 63 anos, meus filhos têm escola”, ressaltou. Mas o contato com a família continua. “Minha irmã vem duas vezes por dia me trazer comida e ontem eu falei com meus filhos”, disse.

“Eu boto nas mãos de Deus, entendeu? Deus vai dar um jeito”, afirmou Anderson. Ele ainda ressaltou que a prioridade é a companheira, por isso parte do dinheiro que eles recebem fica destinado para o banho de Elisandra, que vai até um hotel na área central para fazer a higiene. “Eu tomo banho gelado mesmo, na rua, não tem problema”, garantiu.

O casal garantiu que não recebeu nenhum benefício do governo, nem contato da assistência social, até o momento. O cadastro de Elisandra ainda está em análise, e ela espera que até o dia 15 de julho que o auxílio seja pago para que possam recomeçar.

De acordo com a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), cerca de 4 mil pessoas, na Capital, se autodeclararam em situação de rua. Atualmente são 35 alojamentos para famílias atingidas pela enchente.

Durante o período de calamidade três alojamentos, destinados para pessoas em situação de rua, ficaram sob a gestão da Fasc, e hoje estão disponíveis um alojamento provisório e uma casa de passagem provisória, com uma média de 60 vagas cada um. Cerca de 2.500 pessoas acessam espontaneamente os serviços ou são acompanhadas nas ruas pelas equipes da assistência social.

Devido a previsão da queda das temperaturas, o Ginásio do Departamento Municipal de Habitação (Demhab), localizado na rua Conde D’Eu, 66, bairro Santana, estará aberto para receber pessoas em situação de rua, caso haja necessidade, a partir desta sexta-feira. O espaço será utilizado para acolher exclusivamente homens, das 19h às 7h, caso as vagas nos albergues já estiverem ocupadas. As ações de orientação por meio das equipes de abordagem social, também foram intensificadas, de acordo com a Fasc.