A beira da BR 290 é o único lugar para onde foram os moradores da região das Ilhas que tiveram residências destruídas por chuvas e enchentes. Com cerca de 80% da população do bairro Arquipélago ainda fora de casa, são pelo menos 75 pessoas que permanecem acampadas em tendas improvisadas ou dormindo em veículos estacionados nas laterais da rodovia. O problema parece estar longe de chegar ao fim, uma vez que a região completou 55 dias alagada e os níveis do Guaíba e do Rio Jacuí não reduzem com agilidade necessária.
Na Ilha do Pavão, a água ultrapassa a linha da cintura de uma pessoa adulta em alguns trechos. Um desses pontos é a região do Canal Furado Grande, onde veículos precisam dar meia volta e retornar. O alagamento também toma conta das vias e vielas, em meio aos escombros dos imóveis atingidos.
Cerca de 60 moradores da Ilha do Pavão estão acampados na BR 290. Um deles é o autônomo Selmar Figueiro Pereira, de 52 anos. O homem conta que ainda precisa ir e voltar de barco para acessar o que sobrou de sua casa na localidade.
“Moro há 40 anos na Ilha do Pavão, mas nunca havia passado por algo assim. A água levou tudo o que tínhamos e, desde então, dependemos de doações. A região está inundada há quase dois meses e ainda restam áreas, como no local onde eu morava, que a água atinge a altura do peito”, descreveu o morador.
Também moradora da Ilha do Pavão, a recicladora Daniela Alessandra Carvalho, de 35 anos, passou a viver em uma kombi às margens da Freeway. Ela está acompanhada de duas filhas, de 9 e 16 anos, e de um filho bebê, de três meses.
“Nem lembro mais quando foi a última vez em que não houve inundação. O nível da água sobe e desce, a depender do dia, mas em nenhum momento os alagamentos cessam por completo”, disse a mulher.
A cheia também ultrapassa um metro de altura na Ilha das Flores. Ali, um grupo que permanece na beira da estrada soma 15 pessoas, sendo cinco famílias. Acampados sobre a lama, eles têm sido alvo do frio e da chuva e preparam o alimento em fogos de chão.
Ainda na Ilha das Flores, o metalúrgico João Seli de Oliveira, de 60 anos, conseguiu retornar para casa após mais de um mês. Não há mais nada ali, nem mesmo uma porta, mas o homem celebra ter conseguido salvar a geladeira.
“A geladeira é o único item que restou. Aos poucos vou reconstruir a minha vida e rezar para que Deus nunca mais permita uma inundação igual”, destacou.
Para tentar mitigar a situação, a prefeitura determinou que o bairro Arquipélago terá um posto avançado com serviços de saúde, assistência social e habitação, além de orientações para encaminhamento de benefícios. Outra determinação da gestão municipal foi a ampliação das equipes de limpeza que atuam na região
Equipes da Secretaria de Serviços Urbanos (SMSUrb) se uniram a representantes da Marinha do Brasil para intensificar os serviços de retirada do entulho que acumulado. A região das Ilhas tem uma força-tarefa de 15 garis, que trabalham com sete caminhões e duas retroescavadeiras para o recolhimento dos resíduos.