Aproximadamente 80% dos moradores na região das Ilhas permanecem fora de casa após a enchente em Porto Alegre. Quem já conseguiu voltar ao bairro Arquipélago, no entanto, enfrenta doenças causadas pelo acúmulo de lixo.
A situação ficou ainda mais grave com o aumento do nível do Rio Jacuí e do Guaíba nos últimos dias. Além do vento Sul represar a água e gerar novos alagamentos, o rastro de entulhos que o dilúvio deixou se mistura a outros resíduos arrastados pela correnteza.
Além material pútrido, os montes de lixo atraem ratos e baratas. Consequentemente, há proliferação de mais doenças. O maior risco são as crianças que, acostumadas a brincar livremente na região, acabam ficando com a saúde exposta.
Na Ilha dos Marinheiros, a aposentada Alda Maria Gomes , de 67 anos, é responsável por cinco bisnetos, todos com idades entre dois e quatro anos. A mulher consta que não baixa a guarda em relação a eles e vigia de perto todas as brincadeiras.
“Não deixo mais eles brincarem sem supervisão. Está tudo coberto de lixos. Há ratos e baratas por todos os lados. Mantenho as crianças sempre por perto, todo o cuidado é pouco.
A aposentada tem bom humor e chega a dizer que os ratos são “criados a Toddy”, se referindo ao tamanho dos animais. Ela perdeu tudo o que tinha, mas conseguiu retornar para casa após um mês em que morou na casa da irmã, no bairro Passo das Pedras. Desde então, o problema com o excesso de roedores tem sido constante.
“Há ratos gigantescos que entram em casa durante a noite. As vezes acordo com eles andando na minha cama. A situação está muito ruim, a Ilha dos Marinheiros está coberta por lixo e doenças. Parece que fomos esquecidos”, lamentou a mulher.
A grave crise sanitária na Ilha dos Marinheiros fez com que a Força Nacional do Sistema Único de Saúde (FN-SUS) , em parceria com a Marinha do Brasil, realizasse uma operação de atendimentos, incluindo ações de vacinação, distribuição de medicamentos, renovação de receitas e acolhimento da população vulnerável. Foram identificados casos suspeitos de leptospirose e administrados antibióticos para tratamento imediato.
“Nos deparamos com uma população extremamente carente e amedrontada com o risco de novas enchentes. Conseguimos realizar todas as atividades, desde o acolhimento até a distribuição de medicações, o que foi essencial para atender às necessidades locais”, explicou Juliana Lima de Araújo, consultora técnica da Força Nacional do SUS.