Mercado estará atento a detalhes do cenário alternativo para inflação do Copom

Nas últimas semanas, política fisca entrou no centro das atenções dos investidores

Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil

A última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, foi menos polêmica do que o encontro de maio, mas a ata que será divulgada nesta manhã, a partir das 8h, merece atenção devido a novidades adicionadas no comunicado da decisão. O principal ponto de atenção é o detalhamento do cenário alternativo citado no comunicado. Isso é importante porque está ligado com as projeções de inflação do Comitêpara 2024 e 2025.

No cenário de referência, a estimativa do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2024 é de 4% e de 3,4% para 2025. “Já no cenário alternativo, com a taxa Selic mantida no atual patamar de 10,5% até meados do ano que vem (período do horizonte relevante da política monetária), as projeções do IPCA situam-se em 4% para este ano e 3,1% para 2025”, avalia Leandro Manzoni, analista de economia do Investing.com.

Para ele, o mercado vai avaliar se a manutenção da taxa Selic no atual patamar possa reduzir a inflação no ano de 2025. “E se terá relação com eventual queda do dólar, já que o cenário de referência aponta um dólar a R$ 5,30. A Taxa Selic mantida em dois dígitos em meio a possível início de corte de juros nos EUA eleva o diferencial de juros entre as economias brasileira e americana, atraindo capital estrangeiro para ativos de renda fixa local e, logo, aumentando a oferta de dólar, reduzindo sua cotação”, diz Manzoni.

Além disso,  a projeção de desaceleração do mercado de trabalho, com ao menos estabilidade da massa salarial e da taxa de desemprego pode ser um outro fator. O Copom está monitorando se há uma relação entre o aumento de emprego no setor de serviços intensivo em trabalho e alta nos preços. “Ou então ambos os fatores”, destaca o economista do Investing.com.

LUZ SOBRE O FISCAL

Nas últimas semanas, outro fator ganhou destaque na lista das preocupações: a política fiscal, o que elevou o prêmio de risco na curva de juros brasileira. Mesmo com a saída de estrangeiros do mercado brasileiro em junho devido a uma saída de recursos generalizada de mercados emergentes, a incerteza quanto à trajetória do gasto público e seu impacto na dívida adicionou a aversão a risco no mercado brasileiro.

“O esgotamento de um ajuste fiscal pelo lado da receita sem uma contrapartida de contenção de gastos ou de reformas estruturais intensificou o debate de a taxa de juros neutra, aquela que estimula o crescimento sem pressionar a inflação, tenha subido”, argumenta Leandro Manzoni.

A taxa neutra está atualmente em 4,5% ao ano, de acordo com o último Relatório Trimestral de Inflação, mas há projeções no mercado indicando sua elevação para até 6,5%, o que reduziria a margem para o Copom reduzir a taxa de juros. Neste caso, o mercado estará atento se o atual risco fiscal, com um mercado de trabalho dinâmico em meio a uma atividade econômica atual acima das projeções, além da dificuldade da “última milha” da desinflação na economia mundial, será mencionado na ata se pode ter alterado a taxa de juros neutra.