As consequências econômicas das enchentes no Rio Grande do Sul, especialmente no setor de bares e restaurantes, começam a ser apontadas com mais clareza e apresentam cenário preocupante. Conforme dados de uma pesquisa da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), 39% dos estabelecimentos precisarão demitir funcionários por não conseguirem arcar com a mão de obra, enquanto 46% devem demitir entre três e cinco empregados.
Além da perda sofrida pelos estabelecimentos (33% tiveram danos com insumos, 21% com maquinários e 17% danos imobiliários), o que explica a situação crítica dos negócios do setor é a queda acentuada no faturamento. Conforme números da associação, 84% dos respondentes, o faturamento de maio foi menor que do mês anterior.
O levantamento ainda traz a opinião dos empresários sobre quais políticas públicas seriam efetivas para evitar demissões. Para mais da metade dos respondentes (51%), a adoção do BEm (Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda) por parte do Governo Federal seria a solução viável para a manutenção dos empregos; para 9% a opção ideal seria o layoff e para 40% nenhuma das duas se aplicariam.
PORTARIA
No dia 20 de junho, o Ministério do Trabalho e Emprego publicou a Portaria nº 991, que prevê o pagamento de duas parcelas do salário-mínimo para os funcionários das empresas afetadas – com a condição de que a empresa o mantenha empregado por, no mínimo, quatro meses. Porém, empresários têm afirmado que a medida não é suficiente.
A presidente do Conselho de Administração da Abrasel no Rio Grande do Sul, Maria Fernanda Tartoni, traçou um panorama sobre a atual situação do setor no estado, a partir da publicação da portaria. Conforme Maria Fernanda, além de ter sido anunciada quase dois meses após o início das enchentes, o texto apresenta trechos confusos, como, por exemplo, não esclarecendo quais estabelecimentos afetados terão direito ao auxílio.
Outro ponto criticado pela a Abrasel, é que o Governo prevê o pagamento de duas parcelas do salário-mínimo. Entretanto, o piso da categoria no estado é de R$ 1.655, ou seja: o empresário terá que complementar o valor da folha de pagamento, além dos demais encargos trabalhistas.
CRÉDITO
A pesquisa indicou outra preocupação para os donos de bares e restaurantes no processo de recuperação de seus negócios: 62,5% dos respondentes estão com dificuldade de acesso ao crédito. A situação se revela ainda mais alarmante considerando que para 64% dos empreendedores os custos para a retomada das atividades será de até R$ 500 mil, e 25% dos negócios ainda não conseguiram reabrir suas portas.
“Desde o início estamos pedindo acesso ao crédito com juros subsidiados, mas não é isso que recebemos. O que veio foi o Pronampe, que até certo ponto, vem com redução de juros, mas muitos não estão conseguindo acesso. As linhas de crédito estão começando a ser operacionalizadas agora, depois de quase 50 dias do início das enchentes. Nós precisamos de ações mais efetivas. Precisamos de crédito no mercado, e com maior abrangência”, aponta Maria Fernanda.