Chuvas no RS: um rombo de R$ 25,5 bilhões ao agro gaúcho

Valor é estimado em estudo de professores UFRGS que avalia os impactos da tragédia climática sobre o solo e os nutrientes fundamentais à fertilidade da terra

Lavouras de soja respondem por grande parte do prejuízo acumulado pelas enchentes no campo | Foto: Ricardo Giusti

Um estudo produzido por professores da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) estima em, pelo menos, R$ 25,5 bilhões as perdas sofridas pela agropecuária gaúcha em decorrência das chuvas, inundações e enchentes ocorridas ao longo do mês de maio deste ano em mais de 400 municípios do Estado.

O rombo financeiro é mais do que o dobro (118%) do orçamento público de Porto Alegre para 2024. Em outra comparação, o estrago chega a 28,5% do valor bruto da produção agropecuária gaúcha para o ciclo 2023/2024, calculado em R$ 89,5 bilhões por instituições como Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Embrapa, Emater/RS-Ascar e Instituto Rio Grandense do Arro (Irga). De acordo com os autores do estudo, o montante não considera as perdas em produtos como leite, aves, ovos, suínos, ovinos, madeiras, erva mate, além de outros voltados às áreas de zootecnia e de engenharia florestal.

Os R$ 25,5 bilhões resultam da soma de R$ 19,4 bilhões, correspondentes ao prejuízo com produtos agrícolas não colhidos, não pastejados ou com perda de qualidade, e de mais de R$ 6 bilhões relativos à devastação do solo e eliminação de nutrientes fundamentais à fertilidade.

A camada superficial, de até 20 centímetros de profundidade, de uma área de 106,8 mil hectares, teria sido levada pela enxurrada, indica o artigo “Maio vermelho: o impacto do evento climático extremo na agropecuária gaúcha”, concluído no início de junho.

Os autores, os professores Renato Levien, Michael Mazurana e Pedro Selbach, são vinculados ao Departamento de Solos da instituição de ensino e integram a Associação de Conservação de Solo e Água, entidade fundada há cerca de um ano, reunindo pesquisadores de instituições como Emater/RS-Ascar, Embrapa, universidades e produtores rurais.

Para o estudiosos, o mês da catástrofe climática é o “maio vermelho”, em referência ao “novembro vermelho” de 1978, quando a passagem do El Niño pelo Rio Grande do Sul resultou no que era, então, um “capítulo sem precedentes” em relação à perda de solo por erosão hídrica. Avaliação da época calculou em 33 milhões de dólares – R$ 178,5 milhões, considerando a cotação da moeda americana em R$ 5,41 – o custo do dano sofrido em todo o Rio Grande do Sul naquele mês de novembro.

O levantamento de Levien, Mazurana e Selbach aborda os efeitos das precipitações pluviométricas recordes em cada uma das sete mesorregiões gaúchas – Metropolitana, Nordeste, Noroeste, Sudoeste, Sudeste, Centro Ocidental e Centro Oriental.