Analistas defendem que ambiente não permitia nova redução da Selic

Manutenção da taxa Selic em 10,5% não foi a surpresa, e sim a unanimidade da decisão

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O aumento das incertezas econômicas, associado ao comportamento do dólar fizeram com que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidisse por interromper o corte de juros iniciado há quase um ano. Por unanimidade, ficou mantida a taxa Selic, juros básicos da economia, em 10,5% ao ano, o que não ocorreu por sete vezes seguidas quando houve queda da Selic.

De agosto do ano passado até março deste ano, o Copom tinha reduzido os juros básicos em 0,5 ponto percentual a cada reunião. Em maio, o corte foi de apenas 0,25 ponto percentual. A manutenção da taxa Selic em 10,5% não foi a surpresa, e sim a unanimidade da decisão.

“Surpresa para o mercado, pois a ata da última reunião e os discursos de Roberto Campos Neto, Gabriel Galípolo e Paulo Picchetti entre as reuniões ressaltando o foco da política monetária em convergir a inflação à meta de 3% ao ano foram os indicativos de que o Copom iria decidir unido a manutenção da taxa Selic”, comenta Leandro Manzoni, analista de economia do Investing.com.

Para ele, a surpresa foi a permanência do balanço de risco de inflação para ambas as direções. Se, por um lado, o Copom adota cautela devido à inflação acelerar por maior persistência de pressões inflacionárias na economia mundial e, no âmbito interno, uma maior resiliência da inflação de serviços, que está acima das projeções, por outro lado o Copom vê a possibilidade de uma inflação futura menor devido a uma desaceleração econômica global mais acentuada e impacto maior das políticas monetárias na desinflação no mundo todo.

O segundo ponto do balanço de risco deve ser a senha para a retomada do corte da Selic, possivelmente em 2025 sob um novo comando. “Sem uma orientação futura dos próximos passos da política monetária sob um Copom dependente de dados, a possibilidade de um crescimento menor no trabalho nos EUA que permita o Fed, banco central dos EUA, reduzir os juros em dezembro vai permitir que o Copom volte a flexibilizar a Selic na primeira reunião de 2025”, diz Manzoni.

Para Bruno Corano, economista e investidor da Corano Capital, vários indicadores fizeram com que o Copom, limitasse ou suspendesse a conduta até então de redução. “O ambiente não permite. Estamos observando o dólar sendo pressionado pela conjuntura fiscal do país, uma redução de juros estimula a saída de mais capital, o que pode pressionar o dólar ainda mais para cima”, diz.

Para ele, a situação do Brasil é muito delicada, porque ao mesmo tempo que ele tem que fazer a economia crescer e para isso juros baixíssimos seriam ótimos, ele tem que manter o interesse pela moeda comparado ao mercado internacional. “Por mais que tenham micro reduções nas próximas reuniões, a gente não vai baixar muito enquanto a conjuntura internacional não mudar”, comenta.