O Rio Caí atingiu 6,8 metros, na manhã desta quarta-feira, em Montenegro. Apesar de ter recuado cerca de 25 centímetros desde a meia-noite, o nível da água permanece acima da cota de inundação, que é de 6 metros.
Com 64 mil habitantes, o município registra o maior número de desalojados no Rio Grande do Sul. São mais de 1,2 mil pessoas que saíram de casa e foram morar provisoriamente com amigos ou parentes. Somado a isso, aproximadamente 200 pessoas estão divididas em três abrigos da prefeitura.
Os bairros Industrial, Centro, Ferroviário e Olaria são os mais afetados por inundações. No entanto, ao contrário da orientação da prefeitura, há moradores que permanecem nas áreas alagadas.
O torneiro mecânico Paulo Eduardo Ibarros, de 38 anos, mora no bairro Industrial. Ele afirma que escolheu não sair de casa por receio de furtos.
O morador explica que a água deixou ruas intransitáveis, o que inviabiliza a patrulha de viaturas e acaba por diminuir a presença da polícia no local. Em contrapartida, ainda de acordo com o relato dele, a inundação não freou a ação de bandidos, que chegam a utilizar botes para transportar itens furtados na enchente.
“É comum que residências vazias sejam invadidas. As pessoas saem de casa para fugir da inundação, mas se deparam com imóveis alvo de furtos quando retornam. Os ladrões utilizam até barcos para cometer os delitos”, destaca o morador.
O aposentado José de Azevedo, de 83 anos, corrobora o relato. “Não há como deixar casas vazias. Existe um pessoal que se aproveita dessa situação, invade as residências e leva tudo o que for possível”, diz o idoso.
O rio também arrastou entulhos, móveis, roupas e pedaços de casas. Os resíduos flutuam na agua, se acumulando em esquinas e nos dois lados das calçadas.
Como se não bastasse, o odor do lixo se soma ao de carcaças de animais mortos. Por isso também há presença constante de bandos de urubus no entorno de locais inundados.
Um novo radar contratado pelo governo do RS para promover avanços no sistema de monitoramento meteorológico já está em Montenegro, onde aguarda para ser instalado. Fabricado em Praga, na República Tcheca, o equipamento ficará no Morro São João e terá capacidade de monitorar o clima na Região Metropolitana de Porto Alegre, do Vale do Taquari e da Serra.
Uma torre já existente no morro será utilizada para a instalação. A expectativa de início dos trabalhos é para o segundo semestre. O processo só não foi iniciado ainda devido às condições meteorológicas, que tornam difícil o acesso ao local.
A escolha de Montenegro ocorreu pela posição estratégica da cidade. A área é de alta densidade populacional, e ainda não contava com monitoramento mais detalhado e preciso.
“A população está, assim como nós da Defesa Civil, aguardando com muita expectativa o início das operações dessa ferramenta que capacitará ainda mais a gestão de riscos e desastres”, ressalta o secretário-chefe da Casa Militar e coordenador estadual de Proteção e Defesa Civil, coronel Luciano Chaves Boeira.