O Boletim Focus, divulgado regularmente a cada semana pelo Banco Central com a estimativa de mais de 100 instituições financeiras sobre os principais indicadores econômicos, apontou que a probabilidade de manutenção da taxa Selic no encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) que inicia nesta terça-feira, 18, é de 92,3%. Na semana anterior, o índice apontava uma probabilidade de 91,8%. A decisão será comunicada ao final das operações do mercado financeiro, no fim da tarde desta quarta-feira, 19, com o agravante de um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do ano estimado em 3,96% e um dólar encerrando a segunda-feira valendo R$ 5,42, alta de 0,73%.
“O Boletim é o principal relatório do mercado para tentar prever o futuro da economia brasileira. Entretanto, sua metodologia é baseada na mediana, o que torna difícil saber qual a probabilidade real atribuída pelo mercado para aquela previsão”, afirma Felipe Uchida, head do departamento de análises quantitativas e sócio da Equus Capital.
A operadora calcula, semanalmente, o Índice Equus de Precificação da Selic (IEPS). Através da coleta e tratamento de dados através de Inteligência Artificial (I.A), é possível estimar a probabilidade indicada pelo mercado de alteração para a próxima reunião do Copom. “Analisando os dados, vemos que a probabilidade de manutenção indicada pelo IEPS, neste momento, é de 92,3%. Na semana anterior, o índice apontava uma probabilidade de 91,8%. Vale lembrar que, no dia anterior à última reunião do Copom, este percentual estava em 28,0%”, afirma Uchida.
Segundo ele, nesta semana foi possível observar um aumento no número de contratos em aberto no mercado de opções de Copom, passando de 52.527 para 58.793. Além disso, há um aumento na probabilidade de manutenção na taxa Selic, de 91,8% para 92,3%. “A trajetória de queda da taxa básica de juros está comprometida pelo avanço da inflação de serviços, que acumula alta de 5,09% nos últimos 12 meses. Esse movimento é um ponto de atenção para o possível fim do ciclo que reduziu a Selic em 3,25 pontos percentuais nos últimos meses.” explica.
Segundo Alexandre Gaino, professor de economia e finanças da ESPM, a inflação, que ainda é resiliente, e a crise climática do Rio Grande do Sul são alguns dos motivos para essa cautela e redução do ritmo de queda da Selic. “Além disso, as incertezas em relação às condições fiscais do governo permanecem. A capacidade do governo em entregar o déficit zero ou pelo menos um déficit bastante controlado este ano.” Segundo o próprio Copom essas incertezas acabaram elevando as expectativas inflacionárias deste ano e é isso que justificaria essa prudência, completa o economista.
Do ponto de vista internacional, Gaino diz que existe a necessidade da economia brasileira de manter um diferencial de juros positivo em relação aos juros internacionais, em especial a taxa norte-americana, que está entre 5,25% e 5,50% ao ano, para que o Brasil consiga manter a disparada do preço do dólar no mercado nacional. “A desvalorização cambial também teria impacto sobre os preços aqui.”
Gustavo Faria, Gestor de Recursos CGA do Grupo Fractal, opina na mesma linha. Para ele, as expectativas de inflação ficaram desancoradas devido aos riscos fiscais atuais. Observa-se, na sua visão, um aumento nos gastos do governo, especialmente em decorrência dos acontecimentos no Rio Grande do Sul. Esse aumento nos gastos leva o Banco Central a adotar uma postura mais cautelosa em sua política monetária. “Uma taxa de juros mais baixa poderia estimular excessivamente a economia, gerando uma inflação mais intensa no curto prazo e potencialmente fugindo ao controle”, diz.