Militares do Exército Brasileiro e da Marinha do Brasil, acompanhados de técnicos da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), deram início, na manhã deste domingo, 2, a uma operação para recolher centenas – ou mesmo milhares – de tonéis e tambores com resíduos químicos espalhados pelo Bairro Fátima, em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre. As embalagens, com restos de tintas, ácidos, bases e solventes, estavam armazenadas em um centro de reciclagem de uma empresa privada estabelecida há cerca de seis décadas na área. No dia 4 de maio, a cheia do Rio Jacuí rompeu o dique de contenção existente nas proximidades. A força das águas conduziu à deriva os recipientes para diversos pontos do bairro, incluindo terrenos residenciais.
A própria empresa responsável pelo espaço de reciclagem alertou a Fepam sobre a ocorrência. A fundação solicitou, então, o apoio da Operação Taquari 2, conduzida pelas Forças Armadas diante da catástrofe climática ocorrida no Estado, para tentar mitigar o risco de dano ambiental eventualmente provocado pelo material. Neste domingo, 32 militares de Exército e Marinha, tripulando cinco blindados Guarani, veículos de transporte de pessoal, avançaram sobre a inundação remanescente para avaliar a toxicidade dos tonéis e tambores e verificar a possibilidade de dar início ao recolhimento. A reportagem do Correio do Povo acompanhou a ação a bordo de um dos anfíbios do 33º Batalhão de Infantaria Mecanizada, de Cascavel (PR).
Quatro mil
De acordo com Marcos Arthuzo, colaborador da empresa, “devem ter três ou quatro mil embalagens espalhadas pelo bairro”. A empresa é uma das duas únicas existentes no Rio Grande do Sul para reaproveitamento de recipientes químicos de grande porte – o outro empreendimento está localizado em Gravataí. No caminho de cerca de um quilômetro até o centro de reciclagem foi possível visualizar tonéis de metal e tambores plásticos, a maior na cor azul, flutuando sobre os alagamentos. O engenheiro químico e chefe da emergência da Fepam, Rafael Rodrigues, diz que o risco de contaminação ambiental “é baixo, pois as embalagens continham apenas resquícios dos produtos químicos”.
Sem risco
No centro de reciclagem, com o solo tomado por uma substância pastosa, preta, soldados do 1º Batalhão de Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear, do Rio de Janeiro (RJ), desembarcaram vestindo roupas especiais para proteção cutânea e respiratória, portando tubos de oxigênio com capacidade para, pelo menos, 45 minutos, e mediram o perigo de contaminação oferecido pelos resíduos. “Não foi encontrada nenhuma concentração de produtos químicos que coloque a população em risco”, anunciou o major Carlos Eduardo Bonfim, logo depois de ouvir um relatório dos militares e examinar os resultados indicados pelos aparelhos.
Bonfim salientou que se trata de um resultado preliminar e que amostras retiradas do local serão examinadas em laboratório do Exército no Rio de Janeiro. Concluída a avaliação, o general Márcio Trindade, da 14ª Brigada de Infantaria Mecanizada, de Florianópolis (SC), no comando da operação, anunciou que “agora, o trabalho [de recolhimento das embalagens] vai começar”. Na viagem de retorno às ruas livres de inundação do Bairro Fátima, os militares distribuíram cestas básicas aos moradores de áreas ainda alagadas.
Na Rua Rui Barbosa, ponto de partida e chegada do comboio de Guaranis, a moradora Quétrim Cursino, 35 anos, disse que “até então não estava preocupada com os tambores, pois não sabíamos dos produtos químicos”. Quétrim, no entanto, indicou à reportagem a presença de um dos recipientes, retirado do pátio da casa em frente à sua. Aberto, o tonel de metal vazou uma pasta preta semelhante àquela encontrada no centro de reciclagem. Quétrim afirma que o nível da água naquele ponto do bairro atingiu 2,5 metros. As marcas nas paredes das casas confirmam o depoimento.