Quando Porto Alegre ensaiava uma volta por cima, a chuva levou desesperança até para lugares da Capital ilesos até então. De repente, os bueiros verteram a mensagem direta de que a cidade não vai se curar tão cedo. Nem poderia, uma vez que, diferente dos bairros centrais, regiões inteiras da cidade seguem embaixo d’água desde o dia 3 de maio.
“É como se a gente acordasse sempre no mesmo dia. Não passou e parece que não vai passar”, diz o José Ricardo Assunção, morador do Humaitá.
O conjunto residencial em que vive alagou na noite do dia 3. Desde então, os primeiros andares estão impossibilitados de uso.
Falta luz e água potável no quinto andar, onde vive José Ricardo, mas diante dos que perderam suas moradias, ele considera um transtorno que no momento pode ficar em segundo plano. “A preocupação agora é pressionar para que façam alguma coisa. Não podemos ficar esquecidos aqui no bairro”, clama em busca de ajuda.
São Gerado e Floresta são outros bairros que assim como o Humaitá não recebem o olhar diferenciado que atrai, por exemplo, o Centro Histórico e o Aeroporto Internacional Salgado Filho. São regiões em que muitos moradores ainda sequer conseguiram avaliar as perdas. Mais que conhecer os prejuízos, voltar ao lar é questão de recuperar a própria identidade.
“Tem momentos em que a sensação é que não sei mais a onde pertenço. Não ter pertences, mal sei se tenho casa, isso mexe com as referências da gente”, conta o técnico em informática Clóvis Aguiar, morador do São Geraldo.
Ruas inteiras do Quarto Distrito ainda não permitem acesso. Casas, empresas, centenas de vidas à espera do próximo dia, e que ele seja de fato diferente dos anteriores.