Lodo, saques e lixo a céu aberto: o Centro de Porto Alegre após recuo da água

Moradores e comerciantes tentam assimilar estragos da enchente no Centro Histórico

Equipes do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), iniciaram, nesta terça-feira (21), o processo de lavagem com shampoo industrial, nas ruas do bairro Centro Histórico, na Capital, após a enchente que atingiu a cidade e o Estado no começo deste mês. O serviço é executado com o apoio de um carro-pipa. Foto: Alex Rocha/PMPA

Quem caminha por ruas no Centro Histórico de Porto Alegre encontra pilhas de lixo a céu aberto, camadas de lodo nas vias e a mistura do cheiro de esgoto com água do Guaíba. São resquícios do dilúvio que submergiu casas e estabelecimentos na região. Além disso, sinais de arrombamento na entrada dos comércios dão o tom do desamparo que impregnou a localidade.

A água recuou, mas ainda há pontos de inundação que impedem o retorno da energia elétrica. Moradores e comerciantes buscam por recomeço em meio a curiosos que registram a tragédia em vídeos e fotos com celulares.

O outrora pujante comércio na rua Voluntários da Pátria se tornou ponto de disputa entre catadores de entulhos. Eles buscam mercadorias que a enchente transformou em lixo e que acabam sendo descartadas pelos lojistas.

Célio Pinheiro, de 48 anos, é proprietário de uma loja de calçados. O comerciante estima ter perdido quase R$ 50 mil em itens. Nesta terça-feira, ele disponibilizou as mercadorias descartadas para catadores em frente ao estabelecimento.

“Perdemos tudo, mas ao menos permitimos que os catadores ficassem com os itens que não podemos mais utilizar. Eles também têm família e, assim como a gente, sem dúvida tiveram perdas com a cheia do Guaíba”, refletiu.

Os saques também se tornaram rotina na localidade. Giacomo Severino, de 65 anos, herdou uma óptica do pai. Ele conta que foi obrigado a contratar seguranças particulares para evitar que o local seja alvo de bandidos. O prejuízo dele é estimado em R$ 150 mil.

“Precisamos de mais policiamento, principalmente na parte da noite. Eu ainda consigo pagar segurança privada, mas quem não consegue acaba sendo roubado”, disse ele.

A poucos metros, o Pop Center não tem previsão para reabrir. O local, também conhecido como Camelódromo, não teve lojas atingidas, mas o andar térreo, onde há paradas de ônibus, foi tomado por lama.

“Tento incentivar os lojistas mostrando que não fomos atingidos. Os espaços estão fechados, mas não sofreram danos com a água. Costumo dizer que o Pop Center foi como a Arca de Noé”, ponderou a diretora institucional Elaine Deboni.

O Mercado Público também está com portões trancados. Móveis e entulhos se empilham nos acessos do local. A previsão para reabertura é de pelo menos um mês.

“Estamos ansiosos, mas teremos que reabrir em diferentes etapas. Será necessário máquinas para retirar os entulhos e, depois, a limpeza. Também vamos precisar de dedetização, nas áreas interna e externa”, pontuou o presidente da Associação dos Permissionários do Mercado Público de Porto Alegre, Rafael Sartori.

O entorno do Paço Municipal de Porto Alegre, que segue fechado e teve o subsolo do prédio tomado por água, ainda registra inundações. A histórica Fonte Talavera de la Reina, presente da colônia espanhola por ocasião da comemoração do centenário da Revolução Farroupilha, em 1935, está preenchida com água marrom.

Não há prazo pra reabertura da Estação Rodoviária. A água ainda alaga parte do interior do local, submergindo bancos, lancherias e bancas de revista. Os guichês de atendimento também foram danificados, além de outros equipamentos que estão inoperantes.