Atingidos pelas inundações aquecem as vendas no Litoral Norte

Embora comemorem os resultados, alguns comerciantes lamentam que o incremento do faturamento venha da tragédia

Em pequenos estabelecimentos comerciais já há falta de produtos nas prateleiras | Foto: MILTON SARDI / ESPECIAL / CP

Comerciantes do Litoral Norte foram surpreendidos pelo movimento inesperado e semelhante ao registrado no final da temporada de veraneio, a partir dos primeiros dias de maio. Isto porque muitos atingidos pelas enchentes buscaram refúgio no eixo Torres-Dunas Altas, onde devem permanecer por longo período.

“O movimento é surpreendente para esta época do ano. Por sorte ainda não havia desligado a totalidade dos temporários contratados para atender as demandas do verão”, assinalou Diego Luis da Silva, proprietário de uma loja de utilidades domésticas em Oásis Sul, em Tramandaí.

Comparando o faturamento contabilizado diariamente em maio de 2023, o incremento de vendas já supera em 200% os resultados alcançados em igual período do ano passado. Segundo ele, os “moradores temporários do Litoral” compram de tudo. A maioria, no entanto, busca utensílios domésticos que incluem potes, pratos, copos e panelas, além de gêneros alimentícios e produtos de limpeza.

Apesar do movimento, Silva disse que não há o que comemorar. “Seria perfeito não fossem os olhares tristes dos clientes que, quando chegam no caixa, relatam os mesmos dramas e encerram os diálogos com olhos marejados e com a triste afirmação de ‘perdi tudo'”, lamentou.

Amargura

Supervisora de vendas de uma loja de eletrônicos em Tramandaí, Vytória Hencke, relata que os clientes chegam amargurados. “É difícil não sofrer com cada um que entra no estabelecimento”, comentou. Segundo ela, em alguns dias as vendas são semelhantes às registradas entre os meses de dezembro e março.

As pessoas que ficaram desabrigadas, em sua maioria, buscam lanternas, luminárias de emergência, carregadores e cabos de celular, power bank – bateria portátil que serve para carregar dispositivos em situações em que não há possibilidade de usar uma tomada convencional -, além de máquinas para cortar cabelos. “Desde 3 de maio houve a necessidade de repor os estoques de carregadores e power bank duas vezes”, afirmou.

O gerente de uma grande rede de supermercados, Ulisses Brito, admitiu que não estavam preparados para o movimento acima da média. “Em alguns momentos faltam alguns itens nas prateleiras, mas logo são repostos. Estamos trabalhando com carga máxima, como nos meses de verão”, destacou. O maior problema enfrentado, segundo ele, é a escassez de sacolas plásticas para armazenar os produtos comercializados.

“Em razão dos bloqueios nas estradas, os transportadores enfrentam dificuldades para trafegar e acabam atrasando as entregas”, enfatizou. Para amenizar o problema, Brito orienta os caixas a colocarem os itens em caixas de papelão. “Infelizmente nem todos os clientes aceitam”, frisou.

Faltam produtos

Em pequenos supermercados do Litoral há registro de falta de itens da cesta básica e outros produtos. Em Nova Tramandaí, no setor de hortifrutigranjeiros não havia tomates, as bananas estavam verdes e as batatas prestes a acabar. “Não estavam preparados para tanto movimento. Estão fazendo o impossível para garantir o mínimo para todos”, comentou a aposentada Hilda Souza Soares, 74 anos, que está abrigada na casa de veraneio da família.

Moradora do bairro Mathias Velho, em Canoas, ela afirma ter “perdido tudo”. “A água cheia de lama veio rápido. Consegui encher duas sacolas com roupas até ser resgatada”, afirmou. Quando puder retornar para casa, projeta levar todos os móveis do imóvel do Litoral, como forma de atenuar o prejuízo.