Um odor fétido pairava no ar, nesta quarta-feira, no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre. O cheiro decorre da enchente, que extravasou bueiros e levou um mar de água marrom para o interior de residências e estabelecimentos comerciais. A redução da cheia permite que a maior parte das vias sejam transitáveis, mas o lodo toma conta da região, como se fosse lembrete do desastre, que gerou prejuízo superior a R$ 300 mil aos comerciantes.
Ainda há pontos de alagamento nas ruas João Alfredo, Luiz Afonso e República. Na última, uma miríade de peixes mortos e putrefatos se acumula no pátio da Escola Estadual Professor Olintho de Oliveira.
A maior parte do comércio no bairro ainda não reabriu, mas alguns lojistas arriscam retomar atividades na rua José do Patrocínio. É ali que a empresária Maira Andretta Motta tem uma loja de móveis.
Nesta manhã, os itens foram colocados do lado de fora do estabelecimento, enquanto o barro levado pela água era retirado. Ela se emociona ao falar sobre perspectivas de futuro.
“Não sei o que vai acontecer. Perdemos tudo e nosso prejuízo ultrapassa R$ 300 mil. Não há condição de pagar funcionários. Trabalhamos duro e pagamos impostos, mas agora fomos abandonados pelo poder público”, lamenta, com lágrimas nos olhos.
Na mesma rua, o veterinário Sérgio Bone tentava limpar uma poltrona suja de lodo. Ele espera reabrir a clínica o quanto antes, com expectativa que os equipamentos não tenham sido danificados. No momento do dilúvio, não havia animais na clínica veterinária.
“Somos especializados em cirurgia de animais. Creio que a maior parte dos nossos materiais ainda poderá ser utilizado, após serem esterilizados. A verdade é que apenas será possível calcular o prejuízo depois de atestarmos quais equipamentos teremos que jogar fora”, disse o doutor.