Desde a última semana, o Rio Grande do Sul está literalmente debaixo d’água em um cenário inédito e de crise extrema. Ser racional em momentos como esses não é simples, mas ainda é possível. E, sobretudo, necessário. Caso contrário, conteúdos falsos podem ser difundidos, o que se torna ainda mais grave e perigoso em cenários de catástrofe ambiental. Pode, inclusive, custar vidas.
*Com informações de Agência Lupa
1. Cuidado com informações divulgadas às pressas
Em momento de crise e desespero, o cenário fica ainda mais propício para a circulação de desinformações. Por mais que seja um momento marcado por urgências, é preciso ter calma ao repassar uma notícia.
Uma das primeiras verificações sobre as chuvas no RS feitas pela Lupa, envolveu uma foto em circulação nas redes sociais que supostamente mostraria o nível atingido pela água no muro do Cais Mauá, na capital Porto Alegre. A informação é falsa, tendo sido desmentida no mesmo dia pelo Departamento Municipal de Águas e Esgoto (Dmae), em seu perfil oficial no X.
Mas mesmo o desmentido publicado em contas e notas oficiais pode desinformar – ainda que de forma não proposital. Foi o que aconteceu com a declaração do prefeito de Canoas, Jairo Jorge (PSD), ao afirmar que nove pacientes da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital de Pronto Socorro de Canoas, município da região Metropolitana de Porto Alegre, morreram após o local ser inundado pelas chuvas.
A informação é falsa e foi desmentida no mesmo dia pelo próprio prefeito, em razão de uma falha na comunicação com o secretário de Saúde do município.
2. Esteja atento ao contexto
Alguns conteúdos em circulação pelas redes associam imagens e vídeos referentes a outras situações como se fossem registros das trágicas chuvas ocorridas no estado do Rio Grande do Sul nos últimos dias.
É o caso da imagem do governador Eduardo Leite, que sugere que o político estaria assistindo a um show da cantora Ivete Sangalo nos últimos dias. O problema é que falta contexto. A imagem de fato é verdadeira, mas foi registrada em 30 de setembro de 2023 – quando o estado gaúcho também enfrentava uma crise em razão de enchentes e grande volume de chuva. Ainda assim, utilizada como suposto registro recente, a foto desinforma.
Algo parecido acontece em outro vídeo, que mostra o Presidente Lula sendo vaiado pela população em sua chegada ao Rio Grande do Sul. De fato, a cena aconteceu, no entanto, trata-se de um registro feito no mês de março de 2024, quando o presidente esteve no estado para cumprir agendas oficiais.
3. Se pergunte sobre o papel das imagens de catástrofe
Imagens podem ter função importante, informativa, ajudando na identificação e descrição da situação. Podem inclusive contribuir para a localização e salvamento de pessoas isoladas, por exemplo.
Mas podem também atrapalhar, gerar gatilhos emocionais e confundir a população sobre a realidade e o contexto dos fatos, estimulando apenas o sensacionalismo.
Por isso, procure saber a origem da imagem – seja ela uma foto ou um vídeo. Se preciso, utilize mecanismos de busca reversa nos principais navegadores, para saber a data da primeira vez em que a imagem foi publicada.
4. Escute o áudio mais de uma vez, se tiver tom alarmista
Muitos áudios em circulação mostram o nível de nervosismo e desespero de pessoas envolvidas direta ou indiretamente nos alagamentos. Por isso mesmo, muitos deles podem conter informações incompletas ou distorcidas.
Mesmo que de forma não intencional, esse tipo de conteúdo pode atrapalhar no entendimento do status real de determinada situação, como o isolamento de uma família, a necessidade de resgate ou a busca por corpos desaparecidos.
Foi exatamente o caso de um áudio verificado pela Lupa. Na gravação que circula nas redes sociais, um homem alega que 300 corpos foram encontrados no Bairro Mathias Velho, em Canoas-RS, durante os trabalhos de evacuação na região. Mas a informação é falsa, já que um levantamento da Defesa Civil do RS, divulgado no domingo, informava que até então 75 mortes tinham sido registradas em todo o Estado devido às chuvas e enchentes, apenas 1 delas em Canoas.
Por isso, escute com calma, procure entender as informações no detalhe e identificar a voz de quem está falando – ainda que em alguns casos não seja possível. Quando não tiver tais informações, envie o áudio para uma agência de checagem e solicite a verificação da informação.
5. Evite narrativas únicas
Busque diferentes fontes confiáveis para entender os diferentes lados da história. Acontecimentos como estes dificilmente ocorrem por apenas uma causa isolada.
Em geral, são desdobramentos de uma conjuntura, situações que envolvem fatores ambientais, sociais, geográficos, econômicos e políticos.
Nesse sentido, o ideal é procurar se informar a partir de diferentes fontes confiáveis. Entre elas estão os veículos de imprensa de grande circulação, agências de checagem e comunicados oficiais do governo e de seus órgãos associados, como Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e Civil.