O incêndio que atingiu a pousada Garoa, na madrugada desta sexta-feira, no Centro de Porto Alegre, vitimou ao menos dez pessoas. Outras 11, que também residiam no prédio, ficaram feridas e foram encaminhadas a hospitais da Capital. Ainda não está claro, porém, quantas pessoas estavam no local no momento em que as chamas começaram. A estimativa das autoridades fica entre 30 e 40 residentes.
Segundo o relato do morador Irlei, que saiu ileso do incêndio, o fogo teria começado no térreo. O reciclador de 27 anos contou que estava no segundo andar do estabelecimento quando percebeu luminosidade que vinha do piso inferior. “Consegui sair pela porta, avisei o porteiro e fui buscar socorro na rua. As chamas se espalharam rápido. Muitos tiveram que saltar pela janela na tentativa de se salvar”, explicou.
Outro morador, identificado como Marco Aurélio, contou que a pousada sequer tinha extintor de incêndio. “Esta é uma situação que nunca pensamos em presenciar. Na realidade, desde que entramos aqui, nunca nos deram condições boas para morar. É desumano. Há baratas e ratos espalhados pela cozinha e pelos quartos. Além disso, não tinha extintor de incêndio para apagar o fogo quando ele começou”, relatou.
PPCI
Uma das grandes perguntas a respeito da situação da pousada perante o poder público é sobre a existência do Plano de Prevenção Contra Incêndio (PPCI). Conforme o comandante do 1º Batalhão do Corpo de Bombeiros, tenente-coronel Lúcio Junes da Silva, destacou que o prédio não tinha o documento e que estaria operando de maneira irregular.
Questionado sobre isso, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, relatou que a empresa responsável por abrigar pessoas em situação de vulnerabilidade apresentou a documentação adequada na época da licitação. “Vamos aportar todos os documentos sobre esta pousada. O que sei é que inicialmente ela teria os documentos. Na licitação, apresentaram os documentos. Agora, entre o papel e a realidade, há uma diferença”, resumiu.
O PPCI é um processo que contém os elementos formais, que todo proprietário ou responsável pelas áreas de risco de incêndio e edificações deve encaminhar ao Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul (CRBMS), conforme orientações do referido órgão. O proprietário do imóvel é o responsável por providenciar o PPCI na sua forma completa/PSPCI e sua execução, bem como pelo funcionamento e manutenção das medidas de segurança contra incêndio e por manter o Alvará de Prevenção e Proteção contra Incêndio – APPCI.
Incêndio criminoso ou culposo?
Horas depois do incêndio ter sido totalmente extinto pelo Corpo de Bombeiros, uma primeira suspeita a respeito das causas das chamas foi abordada pelo diretor da Defesa Civil de Porto Alegre, coronel Evaldo Rodrigues de Oliveira Júnior. Segundo ele, o fogo pode ter origem criminosa. De acordo com Júnior, testemunhas dizem que uma pessoa que não residia no estabelecimento foi vista entrando no local durante a madrugada. “Uma pessoa estranha foi vista entrando na pousada, então não descartamos a hipótese do incêndio ter sido criminoso”, disse.
A hipótese ainda não foi confirmada pela Polícia Civil, que não encontrou indicativo de que alguém tenha iniciado o incêndio de maneira proposital.
Autoridades
Além da manifestação do prefeito Sebastião Melo, que esteve no local do incêndio, o governador Eduardo Leite pronunciou-se sobre a tragédia. Ele disse ainda que o Estado segue mobilizado para atendimento às vítimas e na identificação das causas das chamas. “Meus sentimentos aos familiares das vítimas.”
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também falou do incêndio. “Com tristeza e preocupação soube da morte de ao menos 10 pessoas em incêndio em uma pousada de Porto Alegre”, disse o chefe do Executivo nacional na rede social X.
O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, afirmou em entrevista ao programa Acontecendo, da Rádio Guaíba, que o incêndio na pousada Garoa, em Porto Alegre, reforça a necessidade de uma legislação capaz de impedir episódios como o de hoje.
Segundo o integrante do governo Lula, há articulação de grupos da economia que dificultam a alteração das leis sobre prevenção de incêndios. “Nós temos uma legislação muito branda. Na época da tragédia da boate Kiss, em Santa Maria, presidi um grupo que foi criado com o Congresso Nacional para que nós pudéssemos atualizar a nossa legislação, mas o poder econômico, as influências, acabam tendo às vezes uma voz mais alta que impede mudanças”, destacou.
Histórico
O incêndio que atingiu a pousada na avenida Farrapos não foi primeiro envolvendo a rede Garoa. Em novembro de 2022, um homem morreu e outras 11 pessoas ficaram feridas após o fogo consumir parte do edifício de cinco andares localizado na rua Jerônimo Coelho.
A rede de pousadas Garoa possui pelo menos dez unidades em Porto Alegre, espalhadas pelo Centro, zona Leste, Norte e Extremo-Sul da Capital.
O incêndio da madrugada se tornou o segundo com maior número de vítimas da história da cidade e é superado apenas pelo fatídico incêndio das lojas Renner, ocorrido em 27 de abril de 1976, que vitimou 41 pessoas.