Inflação enterra corte de juros nos EUA no primeiro semestre, diz analista

Dificuldade é fazer a inflação convergir para a meta, sem ter desaceleração econômica

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O mercado financeiro já projetava os dados de inflação ao consumidor (CPI) dos Estados Unidos divulgados nesta quarta-feira, 10, com alta de 0,4% em março, mesma taxa observada em fevereiro. Conforme dados do Departamento do Trabalho daquele país, comparado com igual período do ano passado a inflação ficou em 3,5%, mais alta em relação aos 3,2% do mês anterior.

“A parte mais preocupante do índice é que o núcleo também ficou acima das expectativas, sugerindo que as pressões inflacionárias persistem também nos bens de consumo. Isso amplifica os desafios enfrentados pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), pois estamos lidando com fatores inflacionários menos voláteis, como custos de produção, cadeia de suprimentos e salários, todos mostrando um aumento considerável. Além disso, esta é a segunda vez consecutiva que o CPI sai acima das expectativas, jogando uma pá de cal sobre a possibilidade de cortes de juros no primeiro semestre”, diz Thomas Monteiro é estrategista-chefe do Investing.com.

Para ele, no entanto, não estão descartados totalmente cortes de juros no segundo semestre. Levando em consideração que o Fed olha diversos fatores além da inflação – como crescimento econômico e mercado de trabalho -, os dados ainda não parecem suficientemente ruins para mudar totalmente o plano inicial. “As próximas divulgações de inflação certamente se tornam ainda mais importantes uma vez que uma tendência sustentada de alta aumentaria muito a pressão sobre o banco central”, comenta Monteiro.

Para Bruno Corano, economista e investidor da Corano Capital a dificuldade é fazer a inflação convergir para a meta, sem ter desaceleração econômica. “Vivemos um momento único, que são os efeitos de uma pós-pandemia, em que alguns setores aqueceram, outros retraíram, em que teve uma injeção de liquidez, uma injeção financeira no mercado muito grande, e isso agora segue gerando esses efeitos”.

Na sua opinião, a economia americana não dá sinais de arrefecimento, o desemprego não cresce e isso faz com que a inflação não ceda. Corano comenta que o pior é ainda existir uma leve variação do petróleo, que já começou e vai seguir refletindo para fazer esses índices persistirem.

Já o Brasil está sendo capaz de, lentamente, convergir para a meta, porque a economia brasileira está desacelerando mais do que a americana. “Eu não estou falando que a brasileira está desacelerando mais do que o previsto, só está desacelerando mais do que a americana e isso vem contribuindo”.

Para o economista e investidor da Corano Capital, o repasse do aumento do custo do petróleo não está acontecendo. E quem está absorvendo essa perda é a Petrobras. Isso protege a inflação, mas prejudica o acionista e a empresa. “E, fora isso, na prática, para as famílias menos privilegiadas, a inflação continua em alta, porque onde ela mais tem se apresentado é justamente nos alimentos”.