O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a declarar nesta terça-feira (26) que não tem a intenção de transformar a Amazônia em um “santuário da humanidade”. A fala foi feita durante a cerimônia em que o presidente francês, Emmanuel Macron, homenageou o cacique Raoni com a mais alta honraria francesa em reconhecimento pelo trabalho em defesa das florestas e dos indígenas. O evento ocorreu na Amazônia, na Ilha do Combu, em Belém (PA).
“Não queremos transformar a amazônia num santuário da humanidade. Queremos compartilhar com o mundo a exploração e a pesquisa, mas queremos que os indígenas possam participar de tudo que for usufruído. E vamos continuar demarcando terras indígenas e fazendo reservas”, afirmou o petista, que estava acompanhado da ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, e da presidente da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), Joenia Wapichana.
Em agosto do ano passado, durante agenda em Parintins (AM), o presidente tinha feito a mesma declaração. “A gente vai cuidar da Amazônia, mas cuidar da Amazônia não é do jeito que algumas pessoas falam. Cuidar da Amazônia é começar dizendo que a gente não quer transformar a Amazônia num santuário. A gente quer cuidar de cada igarapé, de cada animal, de cada passarinho, de cada flor, da nossa água”, disse, na ocasião.
Na fala feita nesta terça (26), Lula comentava a Conferência das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (COP 30), que será em Belém, no próximo ano. Para o presidente, no evento, a Amazônia terá a oportunidade de “falar” e mostrar para o mundo o que “pensa e quer”.
“Nós decidimos que vamos levar a luta contra o desmatamento como uma profissão de fé, para provar ao mundo que vamos preservar nossa Amazônia. Queremos convencer o mundo que o mundo que já desmatou tem que contribuir de forma muito importante para que países que têm florestas mantenham essas florestas de pé”, declarou.
Macron chegou ao Brasil nesta terça-feira (26) para uma visita oficial de três dias. Ele foi recebido pelo presidente Lula na capital paraense. Os líderes seguiram a bordo de um barco pelo Rio Guamá em direção à Ilha do Combu, onde Macron visitou uma produtora local de cacau.
Em seguida, o presidente europeu homenageou o cacique Raoni Metuktire, da etnia Caiapó, com a Ordem da Legião de Honra, a mais alta condecoração da França, criada por Napoleão Bonaparte em 1802. Ela é concedida a cidadãos com destaque em atividades no cenário global.
Na quarta (27), Macron e Lula participam da cerimônia de lançamento ao mar do Tonelero, um submarino convencional de propulsão diesel-elétrica, na Base Naval de Itaguaí (RJ). O equipamento foi construído por meio do Programa de Submarinos (Prosub), parceria entre Brasil e França feita em 2008.
Ainda na quarta (27), Macron segue para São Paulo (SP), sem a presença de Lula. Na capital paulista, o francês vai se encontrar com investidores e empresários. No dia seguinte, ele vai a Brasília para assinatura de atos. Macron e Lula devem assinar 15 textos, envolvendo temas como cooperação técnica da Embrapa com a contraparte francesa, modernização da gestão pública, audiovisual e criação de centro de imunologia no Ceará.
Durante a visita oficial de Macron ao Brasil, os dois presidentes também devem tratar do acordo entre Mercosul e União Europeia. Macron é um dos líderes europeus mais críticos à parceria. A avaliação dele é de que as negociações podem afetar negativamente a competitividade dos franceses em relação aos sul-americanos, principalmente na questão agrícola. As negociações devem ser retomadas neste segundo semestre, e a expectativa do lado brasileiro é de que haja uma conclusão ainda neste ano.