Tarifa do ônibus em Porto Alegre pode voltar a ser uma das mais caras do Brasil

Prefeitura passa por reuniões para definir reajuste de passagem, apesar de medidas recentes para “segurar” o valor

Foto: Cesar Lopes / PMPA / Divulgação

Após dois anos sem reajuste, a tarifa de ônibus cobrada em Porto Alegre está em revisão. A partir do novo valor, que será anunciado até o fim de fevereiro, o sistema de transporte coletivo municipal poderá voltar a figurar entre as dez capitais com o serviço mais caro do Brasil.

Conforme levantamento realizado pelo Correio do Povo, após reajustes praticados em 12 capitais entre os meses de novembro de 2023 e janeiro deste ano, Curitiba (PR) passou a ter a tarifa mais cara do país, ao lado de Florianópolis (SC) e Porto Velho (RO), ao preço de R$ 6,00 por viagem. Porto Alegre, que atualmente cobra R$ 4,80, ocupa a 11ª posição, contudo deve ganhar posições neste indesejado ranking caso o aumento seja igual ou superior a R$ 0,15. Entre as passagens mais baratas estão as cidades da região Norte e Nordeste. Em Rio Branco (AC), a viagem custa R$ 3,50, enquanto custa R$ 3,85 em Palmas (TO) e R$ 4,00 em Teresina (PI).

O sistema de transporte coletivo municipal passa por transformações desde a pandemia de Covid-19, como alterações nos critérios para a concessão de isenções. A Prefeitura de Porto Alegre tem repassado subsídios às empresas; foram aplicados mais de R$ 100 milhões diretamente, além de recursos destinados à Carris, agora privatizada.

Sobre o reajuste da passagem, o prefeito Sebastião Melo já participou de duas reuniões e uma nova rodada de negociação deve ocorrer ainda nesta semana. Nos bastidores, as justificativas para elevação da tarifa incluem o preço do combustível e a inflação acumulada. As empresas alegam que atendem às reivindicações dos trabalhadores rodoviários, que buscam repor as perdas salariais nos últimos anos, o que elevará significativamente o custo do sistema.

Sobre o aumento na tarifa, a prefeitura afirma que não há nenhuma definição de percentual, porque “nem mesmo foi definido se haverá o reajuste”, de acordo com a assessoria de comunicação da Secretaria de Mobilidade Urbana de Porto Alegre.

Entre as medidas adotadas pelo município para “segurar” o aumento da passagem, destacam-se a retirada da função dos cobradores, a elevação da idade média da frota e o corte de gratuidades, que atualmente são sete: idosos 65+; estudantes; pessoas com deficiência e acompanhantes; crianças e adolescentes (assistência social) e acompanhantes; soldado em serviço da Brigada Militar; pessoas com HIV, em tratamento, e acompanhantes; e Corpo de Bombeiros.

Além do temor do reajuste, usuários das linhas municipais destacam problemas no serviço. Além de atrasos, carros lotados e mal conservados, os passageiros relatam o ar-condicionado desligado em algumas viagens. “Aqui no meu bairro, até hoje aparecem aqueles ônibus com pintura velha no lugar de algum dos azuis que estragou. E o ar-condicionado é outra briga. Só ligam se a gente estiver morrendo”, diz a aposentada Maria Ângela Brauner, 63 anos, usuária da linha 632 – Fátima.

A estudante Daniela Silva Rosenberg, 22, utiliza diariamente a linha 188 – Assunção, e reclama do ar-condicionado e da superlotação. “Não foi nem uma, nem duas vezes, que perguntei para os motoristas e eles disseram que estava estragado. Mas o que mais irrita é entrar num ônibus cheio e depois passa por ti um vazio, é quando tu sabes que o lotado estava atrasado”, desabafa.