A Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) não foi suficiente para impedir que um preso, condenado pela morte de um policial, tirasse fotos dentro da cela. Ele fez os registros com um celular, durante a visita da companheira. Após o encontro, as imagens foram enviadas ao telefone da mulher, que as divulgou nas redes sociais.
O Correio do Povo apurou que uma série de publicações ocorreram entre o dia 2 de fevereiro e este sábado. As imagens contêm legendas de teor romântico e mostram trocas de carícias. Além disso, trilhas sonoras, quase todas interpretadas por cantores sertanejos, foram inseridas como música de fundo nos posts.
Não satisfeito, o casal ainda tornou pública a localização onde fez os registros. Uma legenda indicando ‘Presídio de Alta Segurança de Charqueadas’ foi acoplada na parte inferior dos retratos.
As publicações não têm apenas mensagens de carinho. “Ficha para visita”, ironiza um post. O deboche só foi possível porque a Pasc não tem bloqueador de sinal telefônico.
Outras fotos continham mensagens rogando pela soltura do detento, que cumpre pena superior a 28 anos de reclusão. As legendas destacam a frase “liberdade vai cantar”. O jargão é um conhecido lema dos criminosos no sistema prisional.
O book fotográfico na Pasc é composto por cinco registros. As postagens ultrapassaram 350 visualizações e contam com o apoio dos amigos. “Lindos”, vibra uma seguidora. “Tudo vai dar certo”, diz outra.
Não há dúvidas que se trata de um casal apaixonado. A pergunta é como o preso conseguiu acesso ao celular. O mais provável é que o aparelho tenha sido enviado por drone, uma vez que os visitantes na Pasc são submetidas a scanner corporal.
Apesar da comoção nas redes sociais, a Polícia Penal não se sensibilizou com o romance. As postagens ensejaram buscas no estabelecimento e o apenado acabou sendo enviado para uma cela isolada. Ele vai passar pelo menos dez dias na punição, conhecida também como ‘castigo’.
Antes da transferência, o presidiário estava na galeria da facção Os Abertos, originada no antigo Presídio Central na década de 1990. Todavia, o histórico dele também é vinculado a uma organização criminosa com base no Vale do Sinos.
Assassinato de policial
O preso em questão tem 40 anos. Ele foi condenado em junho de 2023, por envolvimento na morte de um policial civil aposentado. A vítima foi o comissário Antão Danilo do Amaral.
Na Pasc, o apenado cumpre pena de 28 anos e quatro meses. Ele foi condenado por roubo qualificado seguido de morte, associação criminosa e corrupção de menores. Outros três réus também receberam penas similares.
A morte do policial acorreu no dia 29 de outubro de 2022, na rua Coronel Niederauer, em Santa Maria. De acordo com o Ministério Público, a vítima foi surpreendida por assaltantes quando estava dentro de um veículo estacionado. Ao perceber o roubo, o policial sacou a arma. Ele acabou sendo baleado e morreu.
O criminoso acumula registros por tráfico, receptação, porte ilegal de armas, desacato, lesão corporal, corrupção ativa, entre outros. Ele também teria participado de um assalto na casa do ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE) João Luiz Vargas, em São Sepé, em junho de 2009.
Celular apreendido
De acordo com a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), apesar das postagens serem recentes, o celular foi apreendido no dia 1º de janeiro. A instituição destaca que vem intensificando as operações realizadas nas casas prisionais de RS, para coibir a entrada e para a retirada de aparelhos celulares e materiais ilícitos.
Em nota, foi enfatizado que o ano passado totalizou 291 revistas gerais no estado, um aumento de 126% em relação a 2022. Além disso, o comunicado sustenta que já está em fase final a elaboração do contrato com a empresa que será responsável por instalar bloqueadores de celulares em 23 unidades prisionais gaúchas.
Leia a nota da Susepe
A Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) informa que o celular utilizado foi apreendido no dia 1º de janeiro de 2024 por servidores penitenciários, mais de um mês antes da referida publicação em rede social. O aparelho foi localizado durante revista na cela do apenado que aparece na imagem.
Destaca, também, que a instituição vem intensificando as operações realizadas nas casas prisionais de todo Estado para coibir a entrada e para a retirada de aparelhos celulares e materiais ilícitos. Em 2023, foram 291 revistas gerais no RS, um aumento de 126% em relação a 2022.
Além disso, o Estado está em fase final de elaboração do contrato, com a empresa vencedora da licitação, responsável por instalar bloqueadores de celulares em 23 unidades prisionais gaúchas.