Desde que caiu, em fevereiro deste ano, a ponte pênsil que liga a gaúcha Torres com a vizinha Passo de Torres, em Santa Catarina, gera polêmica e incerteza. A passagem sobre o Rio Mampituba, além de atrativo turístico, era vital para a atividade econômica da região, de modo que os comerciantes das duas cidades sentem a ausência da estrutura.
Trabalhadores como Roberto Evaldt Magnus, 61 anos, alegam perdas financeiras significativas nos dez meses sem a ponte. O movimento do ponto de táxi que ele mantém desde 1992 ao lado da rampa de acesso no lado gaúcho diminuiu 80%. “Vinha gente de Passo pela ponte e pegava meu carro para se deslocar em Torres, agora raramente aparece alguém”, lamenta.
Outro profissional do volante diz viver situação parecida. O motorista Rudieri Silva, 31, tira o sustento do dindinho, tradicional linha que transporta turistas pela praia sul-rio-grandense. “Eu trazia muita gente da Guarita até aqui, que vinha passear nas barraquinhas, tirar foto na ponte, esse movimento não tem mais”, afirma.
As lojinhas citadas por Silva ficam localizadas nas duas margens. As instaladas no lado de Torres, a maior parte comercializa artesanatos, artigos de decoração, alimentos e moda praia, ainda resistem apesar de uma baixa de 40% nas vendas. Já as do lado catarinense sentiram de modo ainda mais severo. Sem clientes, pelo menos 12 fecharam ao longo deste ano.
Com um ritmo menor de trabalho, Roberto Magnus encontra até mesmo tempo para pescar. Ele fica junto ao ponto de táxi e enquanto não pesca passageiros, tenta a sorte atirando a linha no Mampituba. “Têm sido assim, contando com a sorte, sem perder a esperança”, revela.
Esperança também é o lema de Rudieri, mas o condutor do transporte coletivo mais famoso de Torres admite que já esteve mais crente que o drama financeiro chegaria ao fim. “Ficaram muito tempo no impasse de quem pagaria a nova ponte. No começo do mês (de dezembro), tinha operários aqui mexendo nos pilares, mas pararam do nada. Certo é que afetou nosso ganha-pão no verão passado e ainda vai prejudicar pelo menos uma parte desta temporada”, conta.
O que dizem as prefeituras
Por meio da assessoria de comunicação, a prefeitura de Torres informou que o processo de reconstrução da ponte pênsil está sendo coordenado pela vizinha Passo de Torres. Procurada pelo Correio do Povo, a administração do município catarinense não se manifestou até a publicação deste material sobre os motivos da paralisação dos trabalhos.
Em novembro, a assessoria de comunicação de Passo de Torres informou ao Correio que a recuperação dos pilares de concreto das duas cabeceiras estava concluída e que a instalação dos cabos de aço para a sustentação da estrutura seria realizada antes do Natal, o que não ocorreu. Também houve atraso na chegada das travessas de madeira que formarão o piso da passagem sobre o rio.
Rompimento de cabos custou uma vida
A ponte pênsil que liga os municípios de Torres e a cidade vizinha desabou no dia 20 de fevereiro de 2023, uma segunda-feira de Carnaval. Como consequência, o jovem Brian Grandi, 20 anos, caiu no Rio Mampituba e teve morte por afogamento. O inquérito policial sobre o acidente apontou sobrecarga por excesso de pessoas, além de desgaste de componentes, falhas de montagem e falta de manutenção adequada.