Depois da queda da Selic, setores empresariais alertam para descontrole fiscal

Instituições alertam que não cumprimento de metas pode prejudicar os cortes futuros na Selic

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Considerando todos os riscos envolvidos na conjuntura econômica brasileira, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de manter o ciclo de cortes na taxa básica de juros do país é acertada.  O posicionamento e da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) salientando, no entanto, que o descontrole fiscal pode prejudicar os cortes futuros na Selic.

Isso acontece porque, segundo a entidade, apesar de mantida a meta de déficit primário zero em 2024, o mercado não acredita mais na capacidade de que sejam cumpridas — e caso o faça, será possível apenas com o aumento de tributos.

A previsão é que, em 2023, o governo gaste aproximadamente R$ 200 bilhões a mais do que em 2022, gerando um déficit entre R$ 150 bilhões e R$ 200 bilhões, contra um superávit de R$ 43 bilhões em 2022. Esse contexto, para a FecomercioSP, limita tanto a magnitude como o número de reduções na Selic no ano que vem.

Para o presidente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn, o equilíbrio das contas públicas continua sendo nosso principal desafio. “Quando o equilíbrio das contas públicas fica explicitamente em segundo plano, as expectativas para inflação aumentam, assim como o custo para ancorá-las. Isso reduz o espaço para cortes saudáveis na Selic, aumentando a chance de os juros estabilizarem em um patamar maior que o inicialmente projetado, com impactos negativos sobre a atividade e a sociedade. Taxas de juros estruturalmente mais baixas somente são viabilizadas com equilíbrio fiscal como premissa”, diz.

Já para a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS), a diminuição foi possível pelo cenário externo, mais moderado, tendo em vista que o conflito no Oriente Médio se manteve restrito à região e, com os juros longos dos Estados Unidos apresentando queda. Também contribuiu para o resultado, o ambiente doméstico, que segue em processo de desinflação, assim como a atividade econômica em desaceleração, principalmente nos setores mais sensíveis aos juros, entende a entidade.

O presidente da FIERGS, Gilberto Porcello Petry, ressalta, porém, que para 2024, a intensificação do ritmo de cortes da taxa Selic estará condicionada à evolução da política fiscal. “O comprometimento do Governo Federal com uma política austera de controle de gastos será fator fundamental para conduzir as expectativas de inflação para meta e, consequentemente, permitir a redução dos juros para níveis condizentes com a retomada do crescimento do setor produtivo”, destaca Petry.