Mineração desenfreada causa afundamento em bairros de Maceió, segundo geólogo da Ufrgs

Especialista avaliou que chuva em excesso, em Gramado, encharcou o solo numa zona de alto relevo

Foto: Divulgação/Agência Brasil

O risco de colapso em uma mina de Maceió, que obrigou 60 mil pessoas a saírem de seus lares, foi causado pelo próprio homem, segundo o geólogo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Antônio Pedro Viero. Para ele, o processo de mineração desenfreada de sal-gema provocou o movimento de rochas que abriu galerias subterrâneas, ameaçando ‘varrer do mapa’ os bairros Mutange, Bom Parto, Bebedouro, Pinheiro e Farol, na zona Oeste da cidade.

Conforme o professor, as instabilidades estão sendo geradas pelo tamanho das cavidades, que foram além da dimensão máxima recomendada e pela proximidade delas, igualmente não respeitadas, conforme estudos da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) e também do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). “Esta foi uma mineração executada que não atendeu, em princípio, as especificações técnicas de projetos aprovados pelo DNPM e que agora está tendo consequências de instabilidade do maciço rochoso gerando sismos, porque os blocos de rochas estão se movimentando, estão afundando, e quando tem movimento de bloco de rochas são gerados sismos e esses sismos estão sendo sentidos na superfície, tem afundamento”, explicou.

Segundo Viero, a evacuação dos moradores destes bairros foi necessária, pois a instabilidade na superfície vai persistir até o assentamento das galerias. “Essa estabilização pode ser feita com preenchimento com areia, ou com outro material. A empresa já vem fazendo preenchimento em algumas cavidades, por determinação, evidentemente, da Agencia Nacional de Mineração, do Ministério Público, da Agência de Meio Ambiente de Alagoas e da sociedade civil. Está sendo feita injeção de areia fluidizada com água para que aqueles vazios sejam preenchidos e aí o colapso do teto pare de acontecer”, revelou.

Fissuras em Gramado

Com relação as rachaduras verificadas em Gramado, na Serra do Rio Grande do Sul, que retirou mais de 500 pessoas do bairro Três Pinheiros no mês passado, o professor declarou que o problema é relacionado ao excesso de chuvas, que ‘encharcou’ o solo numa zona de alto relevo. “A chuva satura o solo, aumenta o peso, a massa de solo, cria uma superfície de deslizamento entre o solo e a rocha. Isso gera um movimento de massa. Começou com movimentos lentos, do tipo rastejo, mas quando a chuva aumentou, esses movimentos acabaram se acelerando, gerando aquelas fissuras no solo e gerando o desabamento do prédio”, concluiu.

De acordo com Viero, um laudo pericial feito há alguns anos havia apontado falhas estruturais no edifício que desabou. A desocupação por causa de rachaduras e de fissuras, já havia sido recomendada. Para ele, o problema estrutural associado com a estabilidade do solo por conta do excesso de chuva foi o causador do problema na estrutura.