Mais otimista, Fecomércio-RS projeta 2024 com desempenho mais tímido no país

Nas estimativas, economia do RS terá desempenho maior que o país no próximo ano

Um 2024 mais modesto depois de três anos seguidos com crescimento acelerado. A projeção foi feita pelo presidente do Sistema Fecomércio-RS/Sesc/Senac, Luiz Carlos Bohn, durante a coletiva de imprensa da entidade realizada nesta segunda-feira, 04 de dezembro. Depois de três anos seguidos com índices de 4,8% em 2021, 2,9% em 2022 e, provavelmente, 3% em 2023, a expectativa é que o próximo ano tenha um crescimento mais tímido, sem a forte influência da agropecuária.

Conforme análise da entidade, a desaceleração do crescimento da atividade econômica já é sentida desde o segundo semestre de 2023, enquanto no Rio Grande do Sul o crescimento será maior que no país.

Entre as projeções consolidadas para 2024, a entidade estima um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,2% no país, subindo para 3,5% no Rio Grande do Sul. Já a inflação deve fechar o ano em 4,2%, com juros de 9,75% enquanto o câmbio deverá encerrar o período em R$ 5,15. Para as vendas do setor do comércio e do segmento de serviços, ao contrário do previsto para 2023, a estimativa é de alta de 3,0% para o comércio e 2,7% nos serviços.

“O crescimento de PIB menor em 2024 não é necessariamente uma má notícia para o setor do comércio de bens, serviços e turismo. O mercado de trabalho continua aquecido, pois a taxa de participação não retomou os níveis pré-pandemia, o que mantém os rendimentos médios das famílias. Além da manutenção da renda, em 2024, teremos crédito um pouco mais barato, com queda na Selic”, disse Bohn.

Sobre a desinflação, a análise projeta que deverá ser pequena e 2024 terminará acima da meta de 3%. Além disso, os alimentos não devem repetir a deflação observada este ano. No âmbito local, o Rio Grande do Sul deverá crescer mais que o Brasil, algo que não ocorre há vários anos em função do clima afetar negativamente a agropecuária.

Para o presidente, embora o cenário se desenhe de forma positiva, ainda existem muitos fatores que podem mudar os rumos do desenvolvimento do Estado, como a aprovação do aumento da alíquota do ICMS e o reajuste do piso regional.

“Vislumbramos um ano positivo, com base no estudo econômico, mas estamos alertas a alguns projetos na esfera tributária e trabalhista. Seguiremos atuantes na defesa dos empresários, responsáveis pela produtividade que tanto gera desenvolvimento e prosperidade para o nosso Estado”, afirmou.

PROJEÇÕES

Para o consultor econômico da Fecomércio-RS, Marcelo Portugal, as reformas estruturais feitas nos últimos seis anos, como a trabalhista e a previdenciária, além das privatizações, abertura da economia, entre outras medidas, ainda estão gerando um efeito positivo sobre a atividade econômica.

Porém, no último semestre não houve mais projetos neste sentido e a reforma tributária só terá impactos no futuro. “A taxa média de crescimento do PIB nos últimos oito trimestres foi de 0,83%, ou 3,3% anualizados, acima dos 2,3% que é a nossa média histórica desde 1993. No curto prazo, teremos desaceleração no crescimento do PIB”, explicou Portugal.

Outro ponto destacado é a heterogeneidade entre e dentro dos próprios setores. Enquanto, nos últimos anos, a agropecuária teve um ótimo desempenho, o PIB da indústria foi na contramão. Nos 2º trimestres de 2021 e 2023 cresceu 3,5%, enquanto o setor de Serviços Industriais de Utilidade Pública (SIUP) cresceu 14,5% e a Construção 10,7%. Já a Indústria da Transformação caiu 1,4%, continuando no mesmo patamar de produção do 3º trimestre de 2015.

“No caso do setor de Serviços, o crescimento agregado entre os 2º trimestres de 2021 e 2023 foi de 7,2%. Mas Outros Serviços (16,8%) e Transportes (14,3%) despontam como locomotivas do setor. O PIB do Comércio está praticamente estagnado (0,9%). Ou seja, isso nos mostra a grande disparidade entre os segmentos”, pontuou o economista.

Sobra a Taxa de Ocupação, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostra desaceleração na geração de postos de trabalho, mas o nível ainda é muito elevado. “Percebemos aqui, que a reforma trabalhista continua gerando ótimos resultados para o País, dinamizando a geração de emprego e renda para a população”, disse.

O cenário, provavelmente, ajudará no desempenho das vendas em 2024. O alto número de contratações somado à queda da inflação ajuda a elevar a massa de rendimentos, o que é muito positivo para o varejo. “Em 2023, o juro elevado e o crédito escasso impactaram negativamente na massa de salários.

Mas, em 2024, com a continuidade da queda na Selic, ambos vão ajudar as vendas”. Porém, os Índices de Confiança do Consumidor (FGV) que apresentavam melhora até setembro, tiveram queda nos meses outubro e novembro. Este é um ponto de atenção para o setor. “Quem não está confiante no futuro, mesmo tendo renda ou crédito disponível, prefere não comprar”, falou Portugal.

INFLAÇÃO

Conforme o economista, a queda da inflação em 2023 foi muito significativa. Saímos de 5,8%, em dezembro de 2022, para 4,8% nos últimos 12 meses, até outubro de 2023. “A inflação cadente é resultado do sucesso da política monetária”, acredita o economista. Porém, essa queda de 1 ponto percentual esconde o verdadeiro tamanho da desinflação ocorrida em 2023. Vale lembrar que a inflação de 2022 foi beneficiada pelas desonerações tributárias e a inflação de 2023 foi prejudicada pela eliminação parcial dessas desonerações.

Em relação às projeções para 2024, elas não são tão positivas quanto o ano anterior, pois os dois principais vetores de desinflação de 2023 vão perder força no próximo ano: a deflação de alimentos e uma política monetária bem apertada. A taxa Selic vai continuar a cair, reduzindo o juro real, e o agronegócio vai ajudar bem menos. Esse efeito já pode ser percebido desde novembro deste ano.

“O mercado prevê uma queda suave na inflação, saindo de 4,5% em 2023 para 3,9% em 2024. Parte significativa da desinflação de 2023 foi gerada por uma política monetária bem apertada e por um comportamento muito positivo dos alimentos. Isso não vai se repetir em 2024”, colocou Portugal.

DESAFIOS

O principal desafio apontado por Marcelo Portugal é o ajuste fiscal. O Arcabouço Fiscal projetava -0,5% em 2023, em função da PEC da Transição, que estourou o Teto de Gastos. A projeção atual do Tesouro é de -1,7% do PIB em 2023. Somado a isso, ainda há a proposta de elevação real contínua do gasto público, entre 0,6% e 2,5% a cada ano.

A arrecadação federal aumentou de R$ 1,87 trilhões para R$ 2,34 trilhões, representando um crescimento real de 25%. Entretanto, esse processo se esgotou. Neste contexto, o contingenciamento de despesas não poderá ser feito com o objetivo de garantir a meta de equilíbrio primário.
Portugal também destacou a arrecadação do ICMS, comparando o cenário do País com o regional.

“Algo similar ocorreu com a arrecadação de ICMS no Rio Grande do Sul, que teve uma expansão totalmente não usual após a pandemia. Chegou a atingir R$ 52,8 bilhões em janeiro de 2022. Em 2023, a arrecadação está voltando para o seu padrão histórico”. Para ele, a arrecadação entre janeiro e outubro de 2023 é menor que os recordes atingidos em 2021 e 2022. Mas é um pouco superior ao que era normal antes da pandemia. Essa queda vai interferir de forma negativa em 2024 e 2025, pois no momento de ganho de receita, o governo também ampliou os gastos permanentes.