Polícia Civil apreende mais de R$ 1 milhão em operação contra recursos oriundos do jogo do bicho e máquinas caça-níqueis na Capital

Foram cumpridas ordens de sequestro de 14 imóveis e 11 veículos, além de bloqueio de 18 contas bancárias e corretoras de criptoativos

Foto: Eduardo Souza / Rádio Guaíba

A Polícia Civil deflagrou, na manhã desta terça-feira (28), a Operação Aposta Suja em combate à lavagem de dinheiro oriundo da prática ilegal de jogo do bicho e máquinas caça-níqueis. Na ação, cerca de 600 mil reais foram apreendidos em posse de uma família especializada no crime, que teve seu líder, João Carlos Franco Cunha, conhecido como Joca, assassinado em 2021. Outros R$ 500 mil foram encontrados no apartamento de um sócio do bicheiro, em Florianópolis, Santa Catarina. Em seis meses, o esquema chegou a movimentar pelo menos R$ 58 milhões.

Conforme o delegado Felipe Bringhenti, responsável pelas investigações e titular da Delegacia de Repressão à Lavagem de Dinheiro (DRLD), do Gabinete de Inteligência e Assuntos Estratégicos (GIE), a investigação teve origem após denúncia sobre a família, que movimentava milhões de reais através de empresas usadas com este fim, principalmente em bairros da zona Norte de Porto Alegre.

Segundo ele, o objetivo da operação foi mostrar que a maior parte do dinheiro adquirido com jogo ilegal foi aplicado em atividades legalizadas. “Nós não investigamos propriamente o jogo, então não temos esse conhecimento assim da dinâmica do jogo em si. Nós conseguimos demonstrar que eles exploram em larga escala [o jogo] e nos ativemos a investigar o patrimônio adquirido em nome de terceira ou em nome da empresa que serve pra lavar o dinheiro”, declarou Bringhenti. 

As diligências apontam que dezenas de empresas como livrarias, casas lotéricas, cafeterias e vendas de título de capitalização, inclusive estariam envolvidas no esquema. Com os recursos oriundos do crime, imóveis e veículos chegaram a ser adquiridos pelos alvos da operação.

Conforme a delegada Vanessa Pitrez, titular do Departamento de Investigações Criminais (Deic), a legislação estimulou a prática do crime pela família. “Essas pessoas que praticam jogos de azar, perduram com essa prática ilícita, já que penalmente são irrelevantes as penas por muito tempo. A investigação e a apuração criminal desses crimes especificamente não faz com que essas pessoas se sintam compelidas a cessar esse tipo de atividade criminosa”, avaliou.

Por outro lado, Vanessa Pitrez, confirma que as penas decorrentes da lavagem de dinheiro poderão resultar numa condenação mais pesada para os investigados. “Com a investigação da lavagem de dinheiro, que sim, daí é um crime considerado grave, com penas mais elevadas, é que a gente vai conseguir e pretende estancar um pouco esta prática, especialmente no que tange aos alvos investigados hoje”, concluiu.

De acordo com Bringhenti, a operação Aposta Suja terá sequência e novos desdobramentos podem surgir, com apreensões ainda maiores de recursos de origem ilícita, decorrente da prática dos crimes. “As operações de lavagem dinheiro, ao contrário de outras investigações, como regra, elas são como um iceberg. Nós conhecíamos o que estava fora da água, empurramos o iceberg um pouco mais para cima e enxergamos uma fatia maior do todo. Nós temos um longo trabalho de análise de toda a prova apreendida para aí ter um verdadeiro panorama do espectro de investimentos deles, dos ramos e dos totais dos valores propriamente ditos”, confirmou.

A operação mobilizou mais de 50 agentes e foi coordenada pelo delegado Cassiano Cabral, diretor da Divisão de Combate à Corrupção e Lavagem de Dinheiro, do Deic. Foram cumpridas ordens de sequestro de 14 imóveis e 11 veículos, além de bloqueio de 18 contas bancárias e corretoras de criptoativos. 29 pessoas terão seus sigilos bancário, fiscal e bursátil (termo técnico utilizado para transações na bolsa de valores) quebrados. 16 mandados de busca e apreensão são cumpridos na Capital e miram empresários gaúchos e catarinenses.