A concorrência desleal com plataformas internacionais de e-commerce, que desde agosto estão isentas de impostos de importação para remessas de até US$ 50, vem impactando a indústria calçadista nacional. A avaliação é da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), que divulgou os dados relativos à produção, consumo aparente e emprego no setor.
Dados da Abicalçados apontam que a indústria criou apenas 391 empregos em setembro e tem saldo negativo de 333 postos no acumulado de 2023. No mesmo mês do ano anterior, o setor havia criado mais de 4 mil postos de trabalho. Excetuando-se o ano de 2020, que reflete os efeitos da pandemia da Covid-19, foi a pior geração de empregos, no período, de toda a série histórica, iniciada nos anos 2000. Atualmente, a atividade emprega, diretamente, 296 mil pessoas, 6,4% menos do que no mesmo período de 2022.
Conforme a entidade há um crescimento no consumo aparente e queda na produção de calçados. Entre janeiro e setembro, o setor produziu 618,5 milhões de pares, 1,6% menos do que no acumulado do ano passado. Já o consumo aparente, no mesmo período e no mesmo comparativo, cresceu 1,9%, para 550,9 milhões de pares. Como consequência, na medida em que o consumo aparente apresenta crescimento superior à produção, infere-se que as importações estão sendo o vetor de incremento do consumo, em detrimento da produção local.
ALERTA
O presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, ressalta que os números mostram o resultado de uma situação que vem sendo levada às autoridades desde agosto, quando entrou em vigor a Portaria MF nº 612/2023, que isentou do pagamento de impostos remessas de plataformas internacionais de e-commerce para pessoas físicas no valor de até US$ 50. “Os dados apontam que, apesar do crescimento do consumo, a indústria nacional vem perdendo tração. Estamos perdendo mercado para produtos que estão entrando no Brasil sem qualquer tipo de tributação. É uma concorrência desleal, pois pagamos impostos em cascata, e que está destruindo não somente a indústria nacional de calçados, mas os empregos por ela gerados”, alerta o executivo.
Recente levantamento realizado pela Inteligência de Mercado da Abicalçados aponta que a isenção coloca em risco imediato mais de 30 mil postos de trabalho na indústria calçadista brasileira. O estudo levou em consideração apenas a concorrência contra as duas maiores plataformas internacionais de e-commerce atuantes no Brasil, que faturaram cerca de R$ 2 bilhões com o segmento em 2022, 20% do valor total do varejo on-line de calçados no Brasil. O levantamento da entidade estimou que a cada R$ 1 bilhão que a indústria calçadista nacional deixa de produzir – pela concorrência desleal imposta pelas plataformas – o setor deixa de gerar 16,5 mil postos de trabalho de forma direta e indireta.