A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir a taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, para 12,25% ao ano, foi considerada “compreensível” pelas lideranças empresariais, mas “insuficiente” para impedir a queda da atividade econômica. Conforme o presidente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn, se por um lado os dados recentes da inflação suportam uma percepção de dinâmica inflacionária evoluindo de forma positiva, as notícias e declarações recentes sobre o fiscal acentuam preocupações com o horizonte à frente, se somando a um cenário internacional por si só desafiador para a política monetária.
“Quando a busca pelo equilíbrio nas contas públicas fica explicitamente em segundo plano, as expectativas para inflação aumentam, assim como o custo para ancorá-las. Isso quer dizer que o espaço para mais cortes na Selic se reduz, aumentando a chance de os juros pararem em um patamar maior que o inicialmente projetado – o que é pior para todos: população, setor produtivo e para o próprio governo. Se quisermos ser um país com taxas de juros estruturalmente mais baixas, precisamos de um compromisso crível e continuado com o equilíbrio fiscal”, diz o dirigente.
Para o presidente da FIERGS, Gilberto Porcello Petry, o cenário externo mudou e se tornou mais adverso a partir da guerra no Oriente Médio, trazendo incertezas quanto à continuidade do processo de controle da inflação no mundo. “Apesar disso, e dos juros de longo prazo dos Estados Unidos alcançarem os maiores níveis em 16 anos, o ambiente interno no Brasil é de continuidade do processo de desinflação e a atividade econômica apresenta moderação em setores mais sensíveis aos juros”, diz.
Segundo Petry, a responsabilidade fiscal é um dos fatores fundamentais para que a inflação permaneça sob controle e permita que a taxa alcance níveis condizentes com o crescimento do setor produtivo. “A redução dos juros é mais um passo importante do Banco Central para amenizar o aperto nas condições de crédito e nos investimentos produtivos, mas o governo não deve deixar de olhar com atenção para as contas públicas, cumprindo rigorosamente as regras determinadas pelo Novo Arcabouço Fiscal”, afirma.
Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban a queda da Selic não é suficiente para impedir custos adicionais e desnecessários em termos de atividade econômica. “Tenho a plena convicção de que a queda de juros não está na velocidade que nós precisamos. Na verdade, estamos em uma armadilha, porque a nossa taxa Selic atingiu um patamar bastante desestimulante. Entendo que não é possível fazer uma queda abrupta, mas o Banco Central poderia ser um pouco mais desafiador e ter iniciado uma redução mais acelerada”, afirma.