Um fato ocorrido na segunda-feira vem gerando polêmica durante a semana. Em um vídeo, gravado por uma aluna do Colégio Anchieta, um professor de história afirma que o Hamas é um grupo político e traz a informação, já desmentida, de que Israel teria bombardeado um hospital na Faixa de Gaza. A fala foi feita para alunos do 9º ano do Ensino Fundamental. Pais e especialistas contestam a atitude do professor, afirmando que o mesmo deveria se concentrar no conteúdo previsto pelo Ministério da Educação para os alunos do ensino fundamental.
Em entrevista ao programa Agora, a mãe da autora da gravação do vídeo, Cristiane Luz, afirmou que sua filha de 15 anos está sendo perseguida por alguns pais que apoiam a conduta do professor. “A minha filha já está sendo massacrada, inclusive tenho mensagens aqui que é triste de ver, eles colocarem toda responsabilidade em cima de uma adolescente, como se ela fosse culpada. E o assunto em si [falas do professor] ser totalmente banalizado e estarem focando em quem gravou. Uma mãe postou assim ‘quem gravou deveria saber que isso traria consequências’, ‘muito triste, essa menina errou feio em gravar, filmar e jogar isso na internet de forma irresponsável’, ‘estão criando um monstro, e o pior de tudo será a escola demitir o professor”, detalhou.
Através de relatos por Whatsapp, pais que preferiram não se identificar afirmam que o vídeo gravado por uma aluna gerou grande debate no grupo de pais na plataforma de mensagens, inclusive de defensores da postura do professor, que gostariam de identificar e punir a autora da gravação. Contudo, para o advogado e criador do movimento Escola Sem Partido, Miguel Nagib, os alunos e seus pais tem o direito, enquanto consumidores de um serviço, de produzirem provas em sua defesa de situações que considerem constrangedoras ou em desacordo com o previsto pelo MEC.
“A aluna tem o direito de gravar a aula. Não existe sigilo dentro de uma sala de aula. O próprio Supremo Tribunal Federal reconhece o direito de uma pessoa gravar uma conversa da qual ela seja interlocutora. Esse direito é garantido pela constituição. O estudante tem o direito de produzir as provas para a defesa dos seus direitos, e para isso ele precisa muitas vezes gravar a aula, já que ele não pode contar com testemunhas”, detalhou Nagib, em entrevista exclusiva ao programa Bom Dia, da Rádio Guaíba.
A mãe da autora da gravação, Cristiane Luz, revelou as preocupações da família da estudante com relação à perseguição que a aluna está sofrendo. “Foi um choque para todos nós ver a fala do professor, mas mais do que isso, alguns pais intimidando minha filha nos grupos e isso realmente nos causa muita preocupação. Eu tenho aqui mensagens que são abomináveis no meu ponto de vista, condenando a Duda, tentando responsabiliza-la, então isso nos deixa bastante preocupados”, detalhou a mãe da aluna.
Uma das pautas defendidas pelo movimento Escola Sem Partido é o fim da doutrinação ideológica dentro das salas de aula, seja de esquerda ou de direita. Para Miguel Nagib, muitos professores se aproveitam da audiência cativa dos estudantes para convencer os alunos de suas próprias convicções.
“Muitos professores estão fazendo isso de um lado porque os professores tem partido e querem convencer os alunos das suas próprias opiniões. De outro lado, muita gente quer matar aula, fazendo um debate interminável, quer gerar discussão, discussão estéril, porque não é baseado em fatos conhecidos, são apenas especulações em fakenews, então muita gente está é querendo matar aula. Se os professores estiverem de boa fé, vamos falar do que já existe, do que já tem bibliografia consolidada sobre o assunto, aí ok, aí é válido. Mas, falar de notícia de jornal, que sai hoje e amanhã o fato já totalmente negado, aí é uma irresponsabilidade, é vontade de matar aula”, afirmou Nagib.
Procurado, o Colégio Anchieta lamentou o ocorrido durante uma aula de História, na segunda-feira (30), através de comunicado enviado por sua assessoria de imprensa. “Dentro do processo de parceria escola, aluno e família, a Direção está averiguando o episódio, ouvindo pessoas da comunidade educativa e acompanhando os desdobramentos para discernir sobre as providências a serem tomadas. O professor está afastado das atividades por tempo indeterminado”.
A reportagem segue tentando contato com o professor para oferecer o direito de contrapor as acusações, mas até o momento sem sucesso. Após a repercussão do fato nas redes sociais o perfil do professor foi excluído.