Boxe brasileiro vai disputar o ouro em nove das 13 categorias possíveis do Pan-Santiago 2023

Modalidade já bateu recorde de medalhas em Jogos Pan-americanos com 12 e vai em busca do recorde de ouros que é de três, em São Paulo 1963; país garantiu também três bronzes

Miriam Jeske/COB

A primeira brasileira a entrar no ringue montado no Centro de Treinamento Olímpico foi Caroline Almeida (50kg). Ela enfrentou Ingrit Victoria, da Colômbia, uma adversária dura, que possui duas medalhas em mundiais (vice em 2022 e bronze em 2023) e uma olímpica. “Naka”, como Carol é conhecida, não deu chances à adversária, sempre tomando a iniciativa do combate. Com isso, garantiu a vitória e cumpriu a meta que tinha colocado para Santiago 2023.

“Ela era a atleta mais dura da minha chave. Eu tenho maior respeito por ela, pela história dela, por ela ter sido medalhista olímpica. Hoje eu acreditei em mim mais do que nunca. O meu estilo nem é trocar golpes, mas mostrei que eu também consigo. Sai com a vitória nos 3 rounds, classificada para Paris que era meu sonho. Obrigada a todo mundo que torceu por mim, inclusive o pessoal do Chile que me recebeu muito bem”, disse Naka, que ainda contou o que quer para a decisão da categoria.

“A estratégia para a final é bailar e ser feliz. Minha meta já foi conquistada que era a classificação para os Jogos Olímpicos, mas agora que eu cheguei na final, eu quero o ouro”.

Depois foi a vez de Jucielen Romeu (57kg) x Omaylin Segovia (Venezuela). No primeiro round, os juízes uma atuação mais contundente da venezuelana, mas no segundo round, Juci partiu para cima e praticamente lutou sozinha, acertando diversos golpes e empatando a luta. Na última parcial, novamente Jucielen mostrou estar mais preparada fisicamente e seguiu tomando a iniciativa, o que garantiu a classificação para a decisão em decisão dividida dos juízes (4 a 1).

“Eu não esperava que o primeiro round fosse assim. Demorei a entrar na luta, estava um pouco travada. No descanso, os treinadores falaram que a gente tinha perdido o primeiro round, que eu não atirado golpes, que tinha que me soltar. Botei na minha cabeça: se eu quiser ser campeã, tenho que ganhar essa luta. Voltei quente, com garra, ativa, com vontade, entrei na luta mesmo e consegui virar. O físico foi um diferencial. Nosso trabalho na Colômbia foi intenso. Se não desse na técnica, o gás eu ia ter”, analisou Juci, que conquistou a prata em Lima 2019.

“Esse campeonato eu vim pra ser campeã. Fiquei com a prata no passado, bati na trave. Esse ano quero fazer um golaço. Quero muito ser campeã. Meu foco é um só: chegar amanhã em cima do ringue, entregar tudo e conseguir esse título”, completou.
Num confronto entre duas medalhistas de bronze no último mundial, Barbara Santos (66kg) e Camila Bravo (Colômbia) fizeram uma luta muito equilibrada, com decisões divididas em todos os rounds. Mas no último, quatro juízes deram a vitória para a brasileira que, no total, venceu por 3 a 2. Barbara creditou a vitória às orientações que recebeu no corner.

“É muito importante para o atleta saber escutar e eu tenho isso. De fora ele tem uma visão muito melhor que a nossa. Na adrenalina, cara a cara é complicada. Confio muito no treinador, a energia que ele injeta na gente funciona. Segui o que ele orientou e deu certo”, comentou Barbara. “São meus primeiros Jogos Pan-americanos, já sou finalista, carimbei meu passaporte para Paris e estou muito feliz”, completou.

Um duelo Brasil e Argentina marcou a quinta semifinal de atletas brasileiros na tarde desta quinta: Michael Douglas Trindade (51kg) x Ramon Quiroga (Argentina). O brasileiro dominou os dois primeiros rounds e acabou com a vitória por 4 a 1.

“Sabíamos que ia ser uma luta difícil, porém os treinadores sempre acreditaram na minha classificação. Administramos no terceiro round, mas soltando golpe, com o coração na ponta da luva para garantir essa vitória. Ele, como atleta olímpico, tem uma bagagem maior que eu, mas com muito trabalho, muita força, muita garra, conseguimos garantir a vaga olímpica”, comentou Michael “Parázinho”, natural de Marituba (PA).
Wanderley Pereira (80kg) encarou Cedryck Belony-Duliepre, do Haiti, e dominou toda a luta, vencendo por unanimidade. Na final, vai encarar uma pedreira, o bicampeão olímpico Arlen Lopez Cardona, de Cuba.

“As expectativas para final são as melhores. Estou muito preparado, bastante treinado, confiante. Com certeza, vou dar meu melhor em cima do ringue para sair com essa vitória”, comentou “Holyfield”, que, na decisão, deve ter uma boa prévia do que irá encontrar em Paris 2024. “É a realização de um sonho essa classificação, muito feliz em poder representar o Brasil nos Jogos Olímpicos. São muitos anos de dedicação para isso e chegou a hora”.

Na última luta do Brasil no dia, o medalhista olímpico Abner Teixeira (+92kg) venceu Cristian Codazzi, da Colômbia, e superou seu próprio desempenho em Lima 2019, em que conquistou o bronze.

“Foi uma luta dura, contra um oponente experimentado, dois Jogos Olímpicos nas costas, disputou Mundiais, Continentais. Quando eu não estava na categoria, ele sempre chegava nas finais. Treinamos muito com ele, e a estratégia estava traçada. Era só eu estar com a mente blindada, coração pronto. Estava ouvindo muito bem o corner hoje, o corpo fluindo. Acordei com uma confiança boa. Consegui fazer tudo certo. Terceiro round já estava com a luta. Tive que ter uma disciplina para não deixar ele crescer. Mas usei minha experiência e deu tudo certo. Mais um passo para fazer história. Quero ser o primeiro cara a repetir medalha olímpica no boxe. Nunca teve duas medalhas na minha categoria e eu quero deixar meu nome cravado com essa conquista”, disse Abner.

Bronzes confirmados

No boxe, os semifinalistas que não avançam já garantem o bronze. No período da tarde, Yuri Falcão Reis não conseguiu superar Wyatt Sanford, do Canadá. Pela manhã, Vivi Pereira e Luiz Oliveira “Bolinha” foram derrotados, respectivamente, por Atheyna Bylon, do Panamá, e Jamal Harvey, dos Estados Unidos, e confirmaram a medalha de bronze.

“Já tinha lutado contra ela umas duas vezes, é uma adversária muito difícil de você entrar, ela é muito alta, braços muito longos, e isso me dificultou um pouco. Eu tentei traçar uma estratégia diferente, mas ela já foi campeã mundial, tem uma bagagem muito grande, e sei que um dia vou chegar lá também. Mas ano que vem tem o pré-olímpico e vou me classificar”, disse Viviane.

“Estou muito feliz com a minha medalha de bronze, mas, como eu disse em outras vezes, não foi o bronze que eu vim buscar. Mas, pelo menos não estou saindo de mãos abanando, conquistei essa medalha de bronze para o Brasil, essa medalha tem um valor, sim. É que atleta nunca está satisfeito com menos, se existe prata e ouro, e o bronze vai para o terceiro, eu sempre vou querer estar no lugar mais alto do pódio. Na próxima vez vou treinar muito mais, vou me dedicar muito mais para conquistar o ouro, sempre”, contou Bolinha.