“Dá desgosto viver aqui”, relata moradora de casa alagada na Ilha das Flores

Vento sul frustra planos de moradores do Arquipélago, mesmo com tempo mais aberto nesta sexta-feira

Foto: Maria Eduarda Fortes / Correio do Povo

As ilhas de Porto Alegre continuam sofrendo com os alagamentos causados pelas chuvas, principalmente nas regiões das cabeceiras dos rios que deságuam no Guaíba e Jacuí. A régua de medição manual da Ilha da Pintada seguia acima da cota de inundação, registrando na manhã de hoje a marca de 2,28 metros. Enquanto isso, mesmo com o tempo aberto desta sexta-feira, houve o temido vento sul, fazendo com que a população seguisse severamente afetada pela permanência das águas.

Na Ilha das Flores, a desempregada Rejane Beatriz Silva mora com duas filhas e quatro netos, entre eles, um bebê que necessita se alimentar com leite especial, em uma residência simples, cuja cozinha, que fica no térreo, está há inundada há semanas. Ontem, a água fria, por causa das baixas temperaturas, estava em nível inferior do que já esteve, porém, para acessar a casa, é preciso passar pela inundação, já que a residência é uma das poucas que não tem uma ponte improvisada construída.

Além da preocupação com a água em si, Rejane se diz frustrada pela falta de ajuda à comunidade. “Nos sentimos esquecidos aqui. A Defesa Civil veio somente uma vez, e quando vêm as doações, elas são entregues no começo da rua. A gente, quando fica sabendo, já não consegue ir até lá para pegar”, conta. No Dia das Crianças, a situação foi ainda mais triste, pois seus netos, segundo ela, choravam pedindo doces e brinquedos, porém a família não tem condições de comprar.

“Tive que atacar o carro que estava passando aqui na frente e implorar para conseguir algo. Aí as pessoas desceram e entregaram balas e outros doces”, relata. Na enchente do começo de setembro, uma das maiores já registradas na história de Porto Alegre, a água alcançou a altura da cerca que fica em frente a residência, e ainda foi pior em outros pontos da ilha, onde moram as filhas, fazendo com que elas precisassem se mudar para a casa da mãe.

“Perdi a pia e o fogão, e sei que nem adianta pedir como doação. Está difícil de conseguir. O Cras (Centro de Referência de Assistência Social) da Ilha da Pintada já fez contato dizendo que posso pedir auxílio na semana que vem, mas e quanto tempo vai demorar para vir? Estamos vivendo aqui entre sete pessoas, mas vamos vivendo como conseguimos. No final das contas, dá muito desgosto viver aqui. Vem a água e destrói tudo”, lamenta a desempregada.