A Selic é uma orientação para taxas praticadas no mercado. É a partir dela, por exemplo, que um banco define quanto um consumidor pagará de juros por um empréstimo ou quanto um investidor irá receber de rendimento em um investimento. A medida em que vai diminuindo também influencia outras taxas oferecidas para empréstimo e financiamento de vários setores.
“Mas é claro que isso não acontece da noite para o dia. É um longo caminho. A gente estima de seis a nove meses para ver o corte na Selic se materializando em uma orientação de juros mais baixos no próprio mercado. Vale lembrar que mesmo se confirmado o corte, a taxa ainda está acima de 10%”, diz o economista da Fundação Getúlio Vargas André Braz.
Para a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), a decisão do Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central (Bacen) de reduzir a Selic, a taxa básica de juros da economia, para 12,75% ao ano é correta, considerando o aumento do preço do petróleo e incertezas da política fiscal.
Embora alguns analistas tenham apostado em um corte mais radical, de 0,75 ponto porcentual, a Federação entende que a redução de 0,5 ponto porcentual é apropriada, uma vez que os cortes exigem cautela, pois os juros mais longos estão subindo consistentemente frente ao receio da política fiscal. Isso acontece porque, só nos primeiros seis meses do ano, o governo já atingiu um déficit fiscal de R$ 100 bilhões, o que mostra uma postura expansionista que ameaça pressionar a demanda no futuro.
Ainda segundo a Federação, o corte de gastos e a Reforma Administrativa são essenciais para manter a redução de juros em 2024 e para melhorar as condições de investimento, receita, renda e emprego do setor privado nos próximos anos. Além disso, o valor do petróleo continua subindo, enquanto a Petrobras mantém preços abaixo do mercado, o que provavelmente resultará em futuros acréscimos nos valores dos combustíveis a fim de preservar a estabilidade financeira da estatal.
REPERCUSSÃO
Para a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS), o Banco Central age de maneira assertiva ao trazer um sinal de alívio para as atividades produtivas, tão afetadas com os atuais níveis de juros e falta de confiança. Entretanto, o presidente da FIERGS, Gilberto Porcello Petry, ressalta que a elevação da intensidade dos cortes irá depender do comprometimento do Governo Federal com uma política fiscal equilibrada, que é um dos pilares responsáveis por acelerar o processo de redução das expectativas de inflação para os próximos anos.
“Nesse sentido, o cumprimento das metas estabelecidas no novo Marco Fiscal é de suma importância para que tenhamos juros em patamares mais favoráveis ao crescimento do setor produtivo no Brasil”, ressalta o presidente da FIERGS.
Já o presidente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn, entende que decisão seguiu em linha com o esperado. Para ele, a inflação de agosto veio abaixo das expectativas, mostrando que há espaço para uma taxa Selic menor. “Mesmo assim, é evidente que a taxa de juros real na economia brasileira permanece em território bastante contracionista. Como temos apontado publicamente, as atividades que são mais sensíveis à dinâmica dos juros, como é o caso do comércio e da indústria, têm sentido fortemente os impactos da política monetária apertada aplicada”, diz.
No entanto, conforme o dirigente, os condicionantes para uma taxa de juros mais baixa se constroem, em especial, a partir de um cenário fiscal equilibrado, estabelecido principalmente sobre uma dinâmica sustentável das despesas públicas e de outras reformas que enderecem aumento da produtividade da economia brasileira no médio e longo prazo.