Advogado diz que Moraes passa de ‘julgador a acusador’; discurso para ‘postar nas redes’, rebate ministro

Defesa diz que nem todos os presentes no 8 de Janeiro fizeram parte do grupo de vândalos que depredou as sedes dos Poderes

Foto: Carlos Moura/SCO/STF

A defesa de Thiago Mathar, segundo acusado a ser julgado pelos atos do 8 de Janeiro, afirmou que o cliente dele entrou no Palácio do Planalto em busca de proteção. No discurso, o advogado Hery Kattwinkel diz que o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, “passa de julgador a acusador”. “Patético e medíocre que um advogado suba à tribuna com discurso de ódio para depois postar nas redes sociais”, rebateu o magistrado.

“Digo com tristeza que o réu aguarda que seu advogado venha defender tecnicamente. O advogado não analisou nada, nenhum dos crimes. Preparou um discursinho para postar em redes sociais. Isso é muito triste. Os alunos de direito que estão aqui hoje tiveram uma aula do que não pode ser feito”, continuou Moraes. “Parece que estou diante de uma inquisição, com os réus com as cordas no pescoço, e as cordas serão puxadas. Estamos lutando boxe de mãos amarradas. Não é possível colocar todos no mesmo balaio”, disse o advogado.

De acordo com Kattwinkel, “se está diante de um rapaz do interior de São Paulo, que pega um ônibus sozinho e há um misto de raiva com rancor contra patriotas”. Segundo ele, “patriotas, na concepção maior, são aqueles que amam seu país”.

“E falei isso para a mãe dele, um ignorante, porque poderia estar cuidando de seus filhos, mas queria um país melhor. Ele não queria vir para fazer bandalheira. Existem bandidos que depredaram patrimônio público, mas não podem ser todos colocados no mesmo balaio. Não estaria usando a mesma proporcionalidade se colocar no mesmo pé de igualdade quem quebrou relógio, vidraça, com quem estava se abrigando no Palácio do Planalto”, afirmou.

Thiago de Assis Mathar é natural de São José do Rio Preto (SP). Para a PGR, o denunciado tentou depor, por meio de violência e grave ameaça, o governo legitimamente constituído e aderiu aos objetivos de auxiliar, provocar e insuflar o tumulto, com intento de tomada do poder e destruição do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do STF.

Segundo a PGR, Thiago e os demais que seguiram para o Palácio do Planalto invadiram o prédio e quebraram vidros, depredaram cadeiras, painéis, mesas, obras de arte e móveis históricos, inclusive, um relógio trazido ao Brasil por dom João 6º. Eles também rasgaram uma tela de autoria de Di Cavalcanti, destruíram carpetes e outros bens com emprego de substância inflamável.

Outras ações

A Corte ainda deve julgar ações contra os réus Moacir José dos Santos e Matheus Lima de Carvalho Lázaro.

Todos respondem pela prática de associação criminosa armada, abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça, com emprego de substância inflamável, contra o patrimônio da União e com considerável prejuízo para a vítima e deterioração de patrimônio tombado. Dentre os reús, apenas Moacir Santos está solto.

As denúncias foram apresentadas pela PGR e aceitas por decisão colegiada no plenário virtual. Depois disso, foram feitas as audiências de instrução dos processos, com coleta de depoimentos de testemunhas de defesa, acusação e interrogatório dos réus.