Toffoli chama prisão de Lula de ‘armação’ e ‘um dos maiores erros judiciários’ da história

Ministro do STF também afirmou, em decisão desta quarta, que a condenação do petista pode ser comparada ao 'ovo da serpente'

Foto: Carolina Antunes / PR / Divulgação

O ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli afirmou, em decisão desta quarta-feira, que a prisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se tratou de uma “armação”, levando a “um dos maiores erros judiciários da história do país”. A decisão anulou as provas obtidas a partir do acordo de leniência da Odebrecht com a Lava Jato.

“Mas, na verdade, foi muito pior. Tratou-se de uma armação fruto de um projeto de poder de determinados agentes públicos em seu objetivo de conquista do Estado por meios aparentemente legais, mas com métodos e ações contra legem. Digo sem medo de errar, foi o verdadeiro ovo da serpente dos ataques à democracia e às instituições que já se prenunciavam em ações e vozes desses agentes contra as instituições e ao próprio STF. Ovo esse chocado por autoridades que fizeram desvio de função, agindo em conluio para atingir instituições, autoridades, empresas e alvos específicos”, afirmou.

A expressão “ovo da serpente” é uma metáfora que remete à falta de ação contra um mal sendo “gestado”. Um filme do cineasta sueco Ingmar Bergman que descreve a lenta e gradual ascensão do nazismo a partir dos anos 1920 na Alemanha utiliza essa expressão como título.

Segundo Toffoli, agentes públicos atingiram pessoas naturais e jurídicas, culpadas ou não, e “destruíram tecnologias nacionais, empresas, empregos e patrimônios públicos e privados”.

Confira a decisão na íntegra

“Sob objetivos aparentemente corretos e necessários, mas sem respeito à verdade factual, esses agentes desrespeitaram o devido processo legal, descumpriram decisões judiciais superiores, subverteram provas, agiram com parcialidade e fora de sua esfera de competência. Enfim, em última análise, não distinguiram, propositadamente, inocentes de criminosos. Valeram-se, como já disse em julgamento da Segunda Turma, de uma verdadeira tortura psicológica, um pau de arara do século 21, para obter ‘provas’ contra inocentes”, disse.

Para o ministro, centenas de acordos de leniência e delações premiadas foram celebrados como meios ilegítimos de levar inocentes à prisão.

“Delações essas que caem por terra, dia após dia. Tal conluio e parcialidade demonstram, a não mais poder, que houve uma verdadeira conspiração com o objetivo de colocar um inocente como tendo cometido crimes jamais por ele praticados. Esse vasto apanhado indica que a parcialidade do juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba extrapolou todos os limites, e com certeza contamina diversos outros procedimentos; porquanto os constantes ajustes e combinações realizados entre o magistrado e o Parquet (Ministério Público) apontados acima representam verdadeiro conluio a inviabilizar o exercício do contraditório e da ampla defesa”.

Prisão de Lula
Preso em 7 de abril de 2018, na sede da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, no Paraná, o atual chefe do Executivo ficou detido em uma sala isolada no último andar do prédio. O então juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba e atual senador, Sergio Moro, emitiu a sentença.

A sala em que Lula permaneceu por 580 dias é chamada de “Sala de Estado Maior”. Com cerca de 15 m², o espaço conta com janelas, uma cama, uma mesa com cadeiras e o acesso a um banheiro.

Moro condenou Lula por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá. Em novembro de 2019, a 12ª Vara Federal de Curitiba autorizou o ex-presidente a deixar a prisão.

Em março de 2021, o ministro Edson Fachin, do STF, anulou as condenações de Lula no âmbito da Operação Lava Jato. Dessa forma, o petista voltou a ser elegível e pôde se candidatar novamente à presidência da República, vencendo a disputa no ano seguinte.